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Retórica tucana e mito da evolução natural — | Brasil Debate |

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Pedro Paulo Zahluth Bastos

É professor associado (Livre Docente) do Instituto de Economia da Unicamp e ex-presidente da Associação Brasileira de Pesquisadores em História Econômica (ABPHE)

Marcio Pochmann

É professor titular da Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP. Foi presidente da Fundação Perseu Abramo de 2012 a 2020, presidente do IPEA entre 2007 e 2021 e secretário municipal de São Paulo de 2001 a 2004.

 
Pedro Paulo Zahluth Bastos e Marcio Pochmann

Retórica tucana e mito da evolução natural

Samuel Pessôa, economista do PSDB, diz que retórica petista “descontextualiza” FHC e distorce informações para favorecer Lula e Dilma. Na verdade, é ele quem recorre a esses expedientes para favorecer seu partido, omitindo que a plataforma neoliberal do ex-presidente tucano prometia crescimento, mas baixou a renda per capita e manteve a desigualdade

17/10/2014

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O abuso da retórica da cientificidade como recurso de poder é comum entre neoliberais que travestem a opção política como julgamento neutro. O nível de autoengano, para dizer o mínimo, chegou a extremos em artigo recente de Samuel Pessôa (Folha, 12/10).

O físico-economista alude à genética de Bruna Marquezine para defender que progressos no bem-estar social dos brasileiros devem-se ou à “evolução natural” da sociedade ou a reformas de Fernando Henrique Cardoso que, no fundo, teriam semeado os avanços colhidos por Lula e Dilma. Pessôa alega que a retórica petista “descontextualiza” FHC e distorce informações para favorecer Lula e Dilma.

Na verdade, é Pessôa quem omite informações, recorre a truques de retórica e distorce a realidade visando ao melhor efeito político para o PSDB.

A principal omissão é que FHC executou a plataforma neoliberal de ampliar o papel do mercado e da competição para selecionar os melhores e punir preguiçosos, prometendo crescimento: privatização de estatais, desregulamentação do mercado de trabalho e liberalização comercial e financeira.

A promessa era falsa: a renda domiciliar per capita caiu entre 1995 e 2002, segundo dados do IBGE (Pnad), tendo aumentado mais de 50% a partir de 2003, com a recuperação do papel do Estado com Lula e Dilma. A melhoria de outros indicadores tampouco resultou da “evolução natural”, a saber:

1. Desigualdade (Gini): enquanto se manteve estável com FHC, caiu 10% com Lula e Dilma diante da valorização do salário mínimo, da defesa e formalização do emprego e ampliação do gasto social, que explicam a queda muito mais do que o avanço “natural” da educação e da demografia;

2. A propósito de progresso educacional, em 2001 FHC vetou o 1º Plano Nacional de Educação (PNE), que determinava investimentos de 7% do PIB até 2010, deixou o País sem meta de financiamento e concluiu mandato com 3,5% do PIB; em 2014, Dilma aplica 6,4% do PIB em educação e sanciona o 2º PNE com destino de 10% do PIB até 2024.

3. Sobre demografia, Pessôa alude a um conceito vago para explicar seu impacto na queda do desemprego: a “transição demográfica”. Talvez se refira à queda da natalidade e o envelhecimento da população, mas a verdade é que isso ainda não esgotou o bônus demográfico (maior proporção de pessoas em idade ativa), pois os adultos nascidos na vigência de taxas mais altas de crescimento populacional ainda não se aposentaram. Ao contrário de reduzir o desemprego, isso o aumentaria caso a oferta de empregos não tivesse aumentado e, principalmente, se não houvesse intensa inserção de jovens à escola, atrasando sua entrada no mercado de trabalho!

De fato, Pessôa omite a significativa ampliação das transferências de renda condicionadas à matrícula escolar, além de bolsas e crédito subsidiado para ensino técnico e universitário e a criação de 18 novas universidades federais (contra zero com FHC) e 178 novos campi. Com isso, as matrículas no ensino superior elevaram-se de 2 milhões (2002) para 7,5 milhões (2014), complementados por 8 milhões de alunos no Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec): produto da evolução natural?

4. Pessôa alega que mais da metade do crescimento da dívida pública com FHC resultou da assunção de dívidas passadas não contabilizadas. Isso é pura invenção: a “assunção de dívidas” explica menos de 10% da dívida e foi compensada em dobro (!) pela venda de estatais e a elevação de impostos. O que explode a dívida são juros altos e títulos indexados em dólar para evitar a crise da âncora cambial antes da reeleição de FHC em 1998. No próprio estudo do IPEA citado por Pessôa, correção cambial e juros altos contribuem com mais do que 100% da multiplicação da dívida por cinco entre 1995 e 2002! A dívida só não se elevou mais por causa das privatizações e do superávit primário depois de 1998.

5. Três idas ao FMI: Pessôa cita artigo de M. Bolle que, à maneira de Goebbels, não chama as coisas pelo nome e alega que empréstimos do FMI não indicam que o Brasil “quebrou”, pois “facilitaram a empreitada” da inclusão social. Por que “quebrar” designaria o fato de não obter financiamento do FMI e decretar moratória, ao invés de precisar dele a ponto de, no desespero, realizar políticas que levaram o desemprego a 15% e prometer vender o Banco do Brasil, a Caixa e as demais empresas estatais ainda não privatizadas, inclusive a PetrobraX?

6. Sobre o desemprego, Pessôa incorre naquilo de que acusa o PT: o “truque retórico de escolher estatísticas e bases de comparação de forma oportunista”. Em 2011, ele escreveu que, “entre julho de 2003 e julho de 2011, a taxa de desemprego caiu mais de 50% (!), apresentando redução de 13% da população economicamente ativa para 6,2%”, citando dados de regiões metropolitanas captadas pela Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE. No domingo, usou a PNAD para afirmar que “se tomarmos como base de comparação 2002, último ano de FHC, o desemprego caiu 2,6 pontos percentuais (!), de 9,1% para 6,5%”, sem sequer discutir que a PNAD capta menos a “transição demográfica” que cita. Ora, 50% ou 2,6%? É provável que a diferença no modo de calcular a redução do desemprego em 2011 e em 2014 se deva a oportunismo político e truque de retórica, não?

A piada sem graça não é que a retórica petista se aproprie da “evolução natural” de Bruna Marquezine, mas que seus críticos precisem se iludir quanto à rejeição da “herança natural” do neoliberalismo tucano por Lula e Dilma.

Crédito da foto da página inicial: Contexto Livre

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20 respostas to “Retórica tucana e mito da evolução natural”

  1. […] Paulo Zahluth Bastos e Marcio Pochmann (Retórica tucana e mito da evolução natural) (aqui); […]

  2. Ciro d'Araújo disse:

    Para nossos interlocutores:

    http://www.smbc-comics.com/?id=3507

  3. Pedro Paulo Zahluth Bastos Pedro Paulo Zahluth Bastos disse:

    É verdade, Frederico, querer reduzir ciências humanas a métodos antigos das ciências exatas é um erro epistemológico fundamental dos liberal-conservadores e neoclássicos. Como já disse, vesgos e cegos (epistemologicamente falando) não têm direito de dizer que o que não vêem não existe.

  4. Frederico Drummond disse:

    Uma das coisas mais limitantes que existem é a concepção de que economia é uma ciência exata e não um campo das ciências humanas. Em ciências humanas não existem lei naturais. A coisa é bem simples assim, ainda que vertentes da economia, como os neo-clássicos, continuem supondo que na ordem dos fatos sociais, fundada na história e na cultura, possa se falar em evolução natural.

  5. Pedro Paulo Zahluth Bastos Pedro Paulo Zahluth Bastos disse:

    Concordo, Junior Garcia, você formulou o problema mito bem: não é o método e o olhar vesgos que inventam a realidade, ela existe para ser captada por todos os métodos e olhares. Os vesgos e cegos não tem direito de dizer que o que não vêem não existe.

  6. Junior Garcia disse:

    Caros Professores,
    Concordo, temos que mostrar aos jovens que o estudo econômico não é um estudo matemático ou estatístico. A matemática é apenas um instrumento, não é Teoria Econômica. Fico muito preocupado quando escutamos que aquilo que não pode ser representado em um modelo matemático não é teoria ou objeto do estudo econômico, ou seja, não merece nossa atenção. Abraço, Junior Garcia

  7. Pedro Paulo Zahluth Bastos Pedro Paulo Zahluth Bastos disse:

    Prezado Carlos Pinkusfeld Bastos,
    É verdade que não se deve perder tempo com “críticas” que usam o recurso bem manjado de fugir do debate abusando da retórica da cientificidade, como se dissessem assim: o instrumental que eu conheço (e suponho erroneamente que você desconhece ou é incapaz de conhecer e julgar) não serve para discutir o que você discute, logo eu vou insultá-lo para mascarar o fato de que não consigo sequer discutir substantivamente o que você discute. O Javier apontou a existência da estratégia de fuga do assunto muito bem.
    Acontece, Carlos, que os argumentos dos “científicos” são tão toscos que eu gasto um tempo muito pequeno para responder, ou seja, mal chego a perder tempo. Além disso, ao não jogar os insultos na caixa de spam, abro espaço para que todos vejam, publicamente, o quão rústicos e incultos os “científicos” são. É por isso que o tal de Daniel não divulga o sobrenome: porque, no fundo, sabe que mascara muito tosca e superficialmente a sua ignorância sobre o assunto em questão e sua incapacidade de discuti-lo, como nas duas chances que teve para mostrar essa ignorância (e aproveitar galhardamente para confirmá-la).
    Vou, contudo, atender a seu conselho sábio, Carlos, e pensar em simplesmente jogar na lixeira os posts que, daqui em diante, se recusem a discutir as questões substantivas tratadas no artigo e apenas confirmem seu primeiro argumento: o abuso da retórica da cientificidade para mascarar opções políticas ou, como no caso em questão, fugir do debate ao ser incapaz de fazê-lo (ao sequer entender seus conceitos, ou como disse o candidato a idiot savant acima: sua “conversa”…).
    Abraços cordiais,
    Pedro Paulo.

    • Carlos Tramontina disse:

      Repito:
      Lamento, mas creio que temos que perder tempo, sim.
      Senão estes caras fazem cada vez mais as cabeças dos mais jovens. Aliás, acho que em parte o fato de não respondermos suficientemente – inclusive às abobrinhas e preconceitos – é responsável por termos uma oposição mais forte e tão preconceituosa e arrogante.

  8. Carlos Pinkusfeld Bastos Carlos Bastos disse:

    Pedro Paulo,

    Você é meu amigo mas eu tenho que lhe fazer uma crítica destrutiva.

    Como, e por que, você perde seu tempo discutindo com esses caras ? Em nenhuma das mensagens há qualquer argumento econômico. Eu disse QUALQUER !! É só ofensa de baixo nível e umas coisas meio infantis de citar tópicos de Econometria 101, uma lista de variáveis que você “deveria” ter usado… Na verdade a única coisa que poderia ser discutida é se de fato teria havido uma pressão para venda de estatais ou não pelo FMI. Se o cara aí de cima não fosse tão raivoso, poderia perguntar objetivamente donde essa informação tem origem, e depois, se estivesse a fim de avançar em algum debate relevante, dizer se concorda ou discorda disso. E por que.
    Deve ser o seu lado Flamengo…
    Abraço,
    Carlos

    • Carlos Tramontina disse:

      Lamento, mas temos que perder tempo, sim.
      Senão estes caras fazem cada vez mais as cabeças dos mais jovens. Aliás, acho que em parte o não responder – inclusive às abobrinhas e preconceitos – é responsável por termos uma oposição mais forte e tão preconceituosa e arrogante.

  9. Javier Vadell disse:

    Daniel,

    espalhe a sua genialidade e refute ‘tecnicamente’ os 6 pontos por favor! Envie algum artigo bom seu para iluminar os mortais. Se for de economia matemática aplique, se é que pode, para refutar os 6 pontos por favor.
    Não guarde a sua sabedoria de Princeton só para você por favor! Espalhe ciência para os ‘desinformados’. Qual é seu sobrenome mesmo?
    Atenciosamente
    JV

  10. Paulo Roberto de Almeida disse:

    Quando pretensos economistas, ou universitários medianos, mediocrizam o debate politico, ao recorrer a conceitos extravagantes como neoliberalismo — coisa que nunca existiu no Brasil, onde até planos de estabilização são implementados de maneira autoritária — podemos constatar que o sectarismo político substituiu de vez a honestidade intelectual. Ou então se trata de simples má-fé. Triste constar quão baixo decaiu o debate econômico entre pessoas supostamente bem informadas. As alegações sobre promessas de privatizar bancos estatais nos acordos stand-by com o FMI não são apenas patéticas, são apenas mentiras asquerosas. Não sabia que acadêmicos respeitados pudessem recorrer a mentiras desse tipo, dignas do exército de mercenários que cervpca a candidata do continuismo ou só encontráveis em assembleias da UNE. LAMENTÁVEL..

    • Pedro Paulo Zahluth Bastos Pedro Paulo Zahluth Bastos disse:

      Prezado Paulo Roberto de Almeida,
      Gostaria de fazer algumas perguntas:
      1) você é formado em economia?
      2) quem é você para se referir aos que discordam de você como “pretensos economistas” ou “universitários medianos”?
      3) você realmente desconhece as promessas de privatizar bancos públicos existentes em documento firmado entre o governo FHC e o FMI ou você é apenas uma pessoa supostamente bem informada que age de má fé?
      4) você vai apagar esse comentário depois de arrepender-se dele ou vai permitir que as opiniões que aqui emitiu sejam conhecidas publicamente?
      Cordialmente,
      Pedro Paulo Zahluth Bastos.

      • daniel disse:

        Esses campineiros são inacreditáveis. Defendem seus “argumentos” sem um pingo de ciência econômica, é pura retórica e termos sociológicos como “neoliberalismo” que em ciência econômica não tem significado nenhum.

        Estudem matemática, estatística e posteriormente econometria(cross-section, dados em painel e séries temporais) e analisem as estatísticas. É o que os economistas formados e os que atuam no mercado financeiro fazem, e há consenso de que a economia está mal conduzida.

        Só com um PhD em Princeton pra consertar a situação mesmo.

        OBS:Estou sim afirmando que Princeton é melhor que a Unicamp. Se tiverem coragem de discordar, digam o porque logicamente levando em conta impacto das publicações, prêmios nobel e rankings universitários.

        • Pedro Paulo Zahluth Bastos Pedro Paulo Zahluth Bastos disse:

          Prezado Daniel (?),
          Não discuto a competência de Samuel Pessoa como matemático: ele foi meu professor de economia matemática. Não gosto de contar que ministrei disciplinas na área por vários semestres (não acho a menor vantagem).
          Discordando ou não, Samuel é educado. Sei que ele não vai mostrar seu diploma de físico nem seu período nos EUA para fugir do debate: ele não tem a cabeça colonizada assim.
          Não duvido que você não consiga entender o que significa neoliberalismo, nem o significado de ciência econômica, mas tampouco lustro obscuridades.
          Cordialmente,
          Pedro Paulo.

          • daniel disse:

            Novamente há uma imensa falta de argumentação técnica. É sempre “vai privatizar tudo”, “neoliberalismo” e etc.
            Argumentem com ciência econômica, falem sobre o balanço do banco central, o saldo em transações correntes, crescimento, poupança(falta desta, no caso) e investimento.

            Meu caro, você precisa aprender mais ciência econômica para entender o que é de fato economia matemática.

            Economia sem formalização matemática não é economia, é conversa. Logo o fato de formalizar matematicamente a intuição econômica não cria uma “economia matemática”.

            Economia matemática é a interseção direta entre economia e matemática PURA, i.e, economistas que tentam interpretar economicamente campos da matemática pura, como geometria diferencial, topologia e sistemas caóticos.

Comentários para Junior Garcia