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Brasil, um país sequestrado — | Brasil Debate |

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Guilherme Santos Mello

É professor do Instituto de Economia da Unicamp e pesquisador do Centro de Estudos de Conjuntura e Política Econômica (CECON-UNICAMP).

 
Guilherme Mello

Brasil, um país sequestrado

Passando por momento de fragilidade econômica e política, o país foi coagido e ameaçado a seguir um caminho que não representa o interesse da maioria de sua população. O preço do resgate foi estabelecido na forma de duras medidas de “ajustamento” recessivo

14/09/2015

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Na triste realidade violenta das grandes cidades brasileiras, é conhecido o enredo de um sequestro: Um cidadão em situação de fragilidade momentânea é feito refém e coagido a se desfazer de suas posses (ou das posses da família) se quiser permanecer vivo. Sua liberdade inexiste, sua voz é suprimida sob graves ameaças e a possibilidade de recuperá-la só existe caso aceite pagar o preço do resgate.

No campo econômico, o Brasil é hoje um país sequestrado. Passando por um momento de fragilidade econômica e política, devido ao aprofundamento da desaceleração cíclica da economia em virtude de problemas estruturais e conjunturais, o país foi coagido e ameaçado a seguir um caminho que não representa o interesse e o desejo revelado da maioria de sua população. Perdeu a liberdade de debater alternativas ao projeto econômico vigente, sendo forçado a aceitar passivamente as imposições de uma inexistente “racionalidade econômica”, que se prova crescentemente irracional.

O preço do resgate foi estabelecido na forma de duras medidas de “ajustamento” recessivo. Qualquer voz dissonante é imediatamente taxada de irresponsável e/ou ignorante. Segundo os sequestradores, o povo deve pagar o preço pela crise (aprofundada pelas próprias políticas liberais) na forma de diminuição de empregos, direitos e privatização dos serviços públicos.

Um “ajustamento” que passe pelo aumento de impostos dos mais ricos é imediatamente rechaçado como “contrário ao interesse público”, alegando-se que a população não aceita pagar mais impostos. Na realidade, quem não quer pagar são os proprietários do capital, aqueles que mais teriam condições de contribuir e que quase nada pagam dada a estrutura tributária regressiva brasileira.

A primeira evidência do “sequestro” se deu ainda em 2014, quando surgiu a tese do “pragmatismo sob coação”, cunhada por um economista do mercado financeiro. Segundo esta tese, o mercado financeiro iria obrigar o governo vindouro a adotar sua agenda, independentemente da escolha eleitoral e do projeto político escolhido pela população brasileira.

A prova de que o sequestro se concretizou é que a ameaça não apenas surtiu efeito na orientação da política econômica do novo governo, como o próprio autor da ameaça foi agraciado com uma diretoria do Banco Central.

A segunda evidência do sequestro é o comportamento das agências de risco internacionais, em particular o recente rebaixamento da nota soberana pela desacreditada e fraudulenta agência Standard &Poor´s.

O recado da agência S&P não poderia ser mais claro: caso o Brasil não adote integralmente a agenda que interessa aos detentores da dívida pública, o país será duramente punido. O rebaixamento deixa claro que os sequestradores mataram um refém e estão dispostos a matar os outros, na forma da perda do grau de investimento pelas demais agências de classificação de risco.

Por fim, o editorial do jornal Folha de S. Paulo deste domingo (13/09/2015) completa o cenário do sequestro do debate público. O texto exige a total desconstrução dos diretos sociais e dos serviços públicos inscritos na Constituição, sonho de todos os liberais de baixa estirpe que dominam o debate econômico nacional.

Caso Dilma não adote integralmente o projeto econômico liberal, ela deverá sofrer o golpe. Aparentemente, a democracia só é válida e defensável quando o governo se compromete a adotar a estratégia econômica de interesse dos donos do jornal, caso contrário o golpe se justificaria.

Diante de tamanhas ameaças, o segundo governo Dilma iniciou adotando a agenda derrotada de Aécio Neves como sendo sua, na vã esperança de aplacar a sanha violenta de seus algozes.

Com o fracasso do ajustamento recessivo, que não entregou nada do que prometeu (nem o ajuste fiscal, nem a queda na inflação, muito menos a retomada do crescimento econômico), iniciou-se um debate sobre alternativas ao ajuste, ao que os sequestradores responderam com alarido, exigindo um prêmio ainda mais alto pela libertação do país cativo.

Escapar de uma situação de sequestro do debate público não é simples, como se pode notar no caso da Grécia. Mesmo com um governo “rebelde” e majoritário eleitoralmente, a vontade política não foi suficiente para superar o elevado preço de enfrentar os sequestradores (Troika).

A submissão total também não aparece como alternativa viável, sob o risco de aprofundar a recessão e aumentar fratura no tecido social, levando o país a uma situação ingovernável.

No caso brasileiro, a melhor saída para a crise atual seria a adoção de uma agenda que viabilize o investimento público, que promova uma reforma tributária redistributiva e priorize o crescimento econômico. No entanto, não parece que o governo tenha forças para adotar tal agenda. Desta forma, as negociações para a libertação do refém prosseguem.

Algumas concessões serão feitas, na esperança de entregar o assessório sem abrir mão do principal. O preço das concessões é aprofundar a recessão e abrir mão da recuperação do crescimento, único remédio para a crise que nos encontramos. Resta saber se isso bastará para alimentar a sanha dos sequestradores que, travestidos de jornalistas, pesquisadores e analistas econômicos, aparentemente exigem a rendição total.

Crédito da foto da página inicial: EBC

 

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5 respostas to “Brasil, um país sequestrado”

  1. Marcos Antônio Pastro disse:

    Não vejo que a situação seja tão dramática quanto o autor queira transparecer com esta visão de “sequestro”.
    O que estamos vivenciando é uma tentativa de resgatar a credibilidade perdida junto ao mercado internacional de Capital. Qualquer acadêmico do 3 ano de Economia sabe que sempre ouve carência de Capital no sistema econômico brasileiro. Pois bem, com a crise de 2008 nas economias centrais (Europa e EUA) grandes somas de recursos financeiros aportaram no Brasil (a tal tsunami monetária a que Lula se referiu e, na ocasião, aumentou o IOF para barrar a entrada).
    As autoridades de plantão, com sua arrogância característica, acreditaram que todos os nossos problemas estavam resolvidos até porque se dizia que os BRINCs é que seriam os salvadores do crescimento da economia mundial. Foram adotadas medidas anticíclicas que, no primeiro momento, diga-se a verdade, muito acertadamente. O problema é que se exagerou na dose e no tempo de duração. Deveria ter acabado em 2010. Mas não, ao invés de arrumar a casa com uma agenda de reformas (tributária, política, trabalhista e melhoria da educação) que visassem aumentar a produtividade da economia o Governo optou por continuar com a nova matriz econômica (descuido com a inflação, excesso de intervencionismo e simpatia com vizinhos: Argentina e Venezuela com histórico de caloteiros no mercado internacional).
    Todos sabemos que, com apenas um clique de computador, o Capital é capaz de voar para outros cantos do mundo onde encontre maior possibilidade de retorno/segurança, quesitos que aqui foram deixados de lado.
    Já no campo da política o que existe é uma colcha de retalhos sem fim em que os vários coronéizinhos estão disputando o poder com aquela característica visão míope de curtíssimo prazo, sem pensar nas gerações futuras.

  2. Roberto disse:

    Brilhante análise!!! Eu como vivendo no exterior vejo exatamente assim. A única diferença q vejo, é a colocação do Brasil, o até da Grécia, como vitima de sequestro! Acho q se trata de toda a classe trabalhadora no mundo inteiro, que virou refém dessa “elite” imbecil e sociopata dos 0,01%… Essa estupita e imbecil elite está nos levando a passos largos pro, agora nesse ponto, inevitável: Guerra mundial…

  3. alan disse:

    Não entendo muito de economia, mas o texto me parece assaz certeiro e a sua linguagem bastante acessível torna fácil entender as auguras do momento atual no Brasil e da dificuldade do segundo governo Dilma em continuar uma agenda voltada para os movimentos populares e população em geral. Agradecido.

  4. Junior Garcia disse:

    Parabéns pela reflexão! Apenas uma observação, não acredito que o país e a sociedade brasileira deva priorizar o crescimento econômico. Acredita devemos priorizar o desenvolvimento. Essa mudança é necessária no contexto do século XXI, em que os custos do crescimento são crescente. Tenho trabalhado nesta temática, caso tenha interesse posso compartilhar algum material.

  5. […] Por Guilherme Santos Mello, no Brasil Debate […]

Comentários para Junior Garcia