O espectro do desenvolvimentismo assombra os liberais

Um espectro ronda o Brasil: O espectro do “desenvolvimentismo”. Todas as potências do velho liberalismo unem-se numa Santa Aliança para conjurá-lo. Que economista heterodoxo não foi acusado de “desenvolvimentista” e apoiador da “nova matriz econômica” por seus adversários? Que liberal nunca usou a pecha de “desenvolvimentista” para ofender seus oponentes?

Duas conclusões decorrem desse fato: 1) O “desenvolvimentismo” já é reconhecido como força por todas as hostes liberais; 2) É hora de os “desenvolvimentistas” (mesmo os que não gostam desta alcunha, mas se identificam com as propostas) exporem seu modo de pensar, seus fins e seus propósitos, elucidando mistificações e unificando proposições.

O pavor que despertamos em nossos adversários só é menor que aquele que os comunistas (do qual o clássico manifesto inspira estes primeiros parágrafos) despertavam na burguesia.

Após dez anos de ensaios de gestão “desenvolvimentista”, responsáveis (dentre outros fatores) por promover o crescimento econômico, a geração de empregos, a ascensão social e a distribuição de renda, os liberais finalmente enxergaram na atual crise a chance de voltarem ao poder. Para isso, é preciso construir uma caricatura do “desenvolvimentismo” e exorcizá-la, relacionando todos os problemas nacionais a sua “desastrada” experiência.

Qual o conteúdo da caricatura? Trata-se de imputar aos heréticos a pecha de “irresponsáveis”, portadores de um “pensamento mágico” e “falseadores da realidade”.

“Irresponsáveis” por apontarem saídas para a crise que não envolvem o corte dos gastos sociais e do investimento público, se recusando a diminuir o papel do Estado. Portadores de um “pensamento mágico” por apontarem os efeitos multiplicadores do investimento público, defendendo sua manutenção para a retomada do crescimento e para a obtenção do almejado equilíbrio fiscal.

Por fim, “falseadores da realidade”, por atribuírem a crise a uma série de fatores estruturais que não apenas a condução da política econômica no primeiro governo Dilma, criticando-o naquilo que os liberais mais defendem (a isenção de impostos) e apontando para o recente “ajuste” como fonte principal da recessão atual.

Por sua vez, os “desenvolvimentistas” acreditam que irresponsabilidade é jogar o país em recessão, através de um ajuste fiscal e monetário que nunca se completa, por promover a queda da receita pública e aumentar o déficit nominal.

Acreditam que “pensamento mágico” é apostar que, com a redução do investimento público, o empresário privado será enfeitiçado pela “fada da credibilidade” e passará a investir em seus negócios. Por fim, acreditam que “falsear a realidade” é negar os evidentes custos sociais do ajuste, atribuindo os problemas nacionais aos direitos sociais, enquanto não se discute os 8% do PIB gastos com juros pagos ao sistema financeiro.

A denúncia do evidente fracasso do ensaio liberal recente é rechaçada como heresia daqueles que pretensamente não reconhecem seus erros. Para confundir a população, acusam-se os “desenvolvimentistas” de defenderem aquilo que nunca defenderam (inflação alta e descontrole fiscal); de propor “insanidades” que levariam a economia a um suposto caos (instalado de fato pela atual gestão liberal); de um “governismo” que não combina com as duras críticas feitas a gestão econômica dos dois governos Dilma.

Resta aos “desenvolvimentistas” das mais diversas tendências desconstruírem a caricatura de qual foram alvo, expondo de maneira clara seu compromisso com o equilíbrio fiscal, com o controle inflacionário, com a justiça social e com o crescimento econômico, por meio de estratégias diversas daquelas professadas pelos raivosos liberais.

Superar o bloqueio ao debate imposto a base de “chineladas” àqueles que pensam diferente é a primeira tarefa de qualquer desenvolvimentista, sem a qual não será possível construir um país mais justo, democrático e reindustrializado.

Comentários

2 respostas para “O espectro do desenvolvimentismo assombra os liberais”

  1. Ceci Juruá
    Ceci vieira Juruá

    Aos quatro princípios explicitados pelo prof. Rossi, ou compromissos com a estabilidade monetária, o equilíbrio fiscal, o crescimento, a justiça social – totalmente de acordo -, eu acrescentaria: a soberania nacional. Em momento algum da nossa história de país emancipado, avançamos em matéria de justiça social pela mão de governos subservientes aos países centrais. Sem uma defesa firme da Soberania não há Justiça Social ! Nunca houve, nem haverá. E esta é a grande dívida (ideológica) de Lula e do PT com os brasileiros. Ceci Juruá

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