O colapso da riqueza e a Revolução do Cashmere

A revista britânica “The Economist” classificou como a “Revolução do Cashmere” a manifestação do dia 22 de outubro de apoio ao candidato de direita Aécio Neves.

Segundo a publicação, barões dos negócios e financistas não são conhecidos por tomar as ruas, mas nesta data milhares deles ocuparam a extravagante avenida Faria Lima, em São Paulo, para apoiar o candidato mineiro.

Pessoas vestidas com camisas bem passadas e com as iniciais bordadas empunhavam bandeiras de seu candidato, enquanto socialites bem vestidas entoavam frases contra o PT. Para os britânicos, faltaram apenas taças de champanhe na “Revolução do Cashmere”.

Os “revolucionários” estão fartos do intervencionismo estatal petista e o responsabilizam pelas baixas taxas de crescimento e pelo aumento da inflação. Muitos deles afirmam que o País nunca esteve tão mal.

Tais afirmações deixam economistas atônitos, uma vez que a renda desta parte da população teve substancial crescimento nos 12 anos de governo petista. A renda domiciliar real per capita do 1% mais rico aumentou 27% neste período, passando de R$ 9,6 mil para R$ 12,3 mil.

A parcela da população que pertence aos 10% mais ricos também não pode reclamar neste quesito, pois sua renda aumentou 29% no período, passando de R$ 3,4 mil para R$ 4,4 mil.

As análises deste comportamento costumam apontar o preconceito de classe e nossa herança colonial como causas. É certo que explicam boa parte do comportamento político da elite brasileira por séculos, mas há também causas objetivas que explicam o ódio dos ricos e da classe média alta ao PT, especialmente a dinâmica da riqueza.

Este é um dos raros momentos de nossa história que elite diz “there is no free lunch” com conhecimento de causa e não apenas como uma lição de moral para a choldra.

As possibilidades de enriquecimento e de construção de uma fortuna se tornaram bem mais exíguas durante o governo Dilma. Para isto, é preciso verificar as principais formas de acumulação de riqueza: imobiliária, acionária e dívida pública.

Ainda no Governo Lula, algumas fortunas foram erguidas no mercado imobiliário. A valorização dos imóveis era crescente, chegando a 30% ao ano em algumas capitais como Rio, São Paulo e Brasília. Com uma pequena entrada e negociação do ágio, os investidores puderam especular e ganhar polpudos rendimentos.

No entanto, esta fase de alta valorização dos imóveis acabou. Agora, para se vender um imóvel, é necessário um elevado desconto. Em São Paulo, construtoras chegaram a realizar um feirão, no qual os descontos chegaram a 40%, para desencalhar seu estoque.

Dados do Secovi (Sindicado da Habitação) apontam para uma retração de 43,8% na venda de imóveis novos em São Paulo, em relação a 2013.

Se, por um lado, não é possível mais especular no mercado imobiliário, por outro, os preços estão inacessíveis para quem pretende comprar seu primeiro imóvel. Desta forma, é possível esperar um longo ajuste neste mercado para que os preços se ajustem à capacidade de pagamento da população.

O desempenho do mercado acionário também não é dos melhores. Após registrar uma valorização de 515% durante o Governo Lula, o Ibovespa acumula uma desvalorização de 22,95%.

É fato que os desempenhos dos mercados imobiliários e acionários foram medíocres durante os anos FHC, mas os altos juros da dívida pública possibilitavam uma acumulação de capital com grandes retornos e baixíssimo risco.

Neste quesito, a realidade mudou muito nos últimos anos, apesar dos lamentos de economistas progressistas que comparam os juros vigentes com o restante do mundo.

Uma Selic em 11,25% permite um ganho real antes dos impostos de 4,75% ao ano. Este número é ligeiramente abaixo do rendimento histórico do capital no mundo de 5% ao ano apontado por Thomas Piketty em seu influente livro. Isto sem contar o breve período em que taxa de juros real ficou em 0% no governo Dilma.

Agora as possibilidades de fortuna ficam restritas a uma carreira exitosa ou a um longo e árduo processo de poupança, com grandes privações de consumo e símbolos de status. Isto pode ser demais para uma elite de origem aventureira, como já nos mostrava Sergio Buarque de Hollanda.

 

 

 

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