Mudanças climáticas e impactos na América Latina
13/02/2015
Nos últimos meses, o Brasil Debate vem chamando a atenção para a questão do meio ambiente e em especial da água. Apontou-se que, quanto à questão da falta de água, em especial no Sudeste do País, um problema central é a privatização da gestão, controle e distribuição da água, bem como o descaso com matas ciliares e fontes de água em geral (ver AQUI e AQUI), aliada às mudanças climáticas.
Quanto a esse último fator, estudo do Banco Mundial sintetiza diversas das transformações e impactos causados pelas mudanças climáticas no mundo e mostra que as variações de temperatura e precipitação, os extremos de calor e o derretimento das geleiras terão efeitos adversos sobre a produtividade agrícola, os regimes hidrológicos e a biodiversidade na América Latina e no Caribe.
Segundo o estudo, embora a América Latina e Caribe tenham abundância de recursos de água doce hoje, os mesmos podem ser afetados pela mudança climática e as fontes podem não ser suficientes para atender à demanda no futuro. Os que mais sofrerão as consequências de tais mudanças, segundo o estudo, serão as populações mais pobres.
Os pesquisadores estimam que até o ano de 2100 as temperaturas do verão na região aumentarão cerca de 1,5°C se houver aumento global de 2º C e cerca de 5,5°C se houver aumento global de 4°C em comparação com o período 1951-1980.
Ao longo da costa atlântica do Brasil, Uruguai e Argentina, o aquecimento projetado ficará abaixo da média mundial, variando entre 0,5 e 1,5°C no cenário de aquecimento global de 2°C, entre 2°C e 4°C na hipótese de elevação de 4°C. No Brasil, na ausência de continuidade da adaptação, a produtividade agrícola pode diminuir entre 30% e 70% no caso da soja e até 50% no caso do trigo diante de um aumento de 2°C na temperatura, segundo o estudo. Alguns desses impactos (e outros) estão sintetizados no quadro abaixo:
Assim, as mudanças climáticas ameaçam a estabilidade da disponibilidade de água doce e dos serviços ecossistêmicos; colocam em risco tanto a produção agrícola (em grande escala para exportação e a agricultura de pequena escala para a produção regional de alimentos, sendo exceção o aumento previsto na produtividade de arroz irrigado/inundado em algumas regiões); e causam mais fenômenos extremos que afetam as comunidades rurais e urbanas (especialmente as mais pobres e sobretudo nas regiões costeiras).
O alerta é para a necessidade de correr contra o tempo não só para reduzir as interferências humanas no meio ambiente (que causam as mudanças climáticas), com a crítica ao padrão de produção e consumo vigentes na sociedade capitalista, mas também para a adaptação das políticas públicas para esse novo cenário de transformação.

Gostaria de manifestar um ponto de vista alternativo as considerações do Ricardo.
“Não dá pra fazer omelete sem quebra de ovos”
O desenvolvimento não pode e não deve estar desconectado das questões ambientais, mas não existe consenso científico quanto ao grande e único impacto das ações humanas no que diz respeito as emissões de carbono, iniciadas na primeira revolução industrial no sec. XVIII – ela afeta o clima, mas não é o único ofensor, pois também existem questões naturais de mudanças cíclicas, uma vez que o planeta é um organismo vivo e em constante mutação.
Só para exemplificar, a construção de Belo Monte foi fortemente bombardeada pelos “arautos da sustentabilidade” e culminou com a redução do seu potencial de armazenamento hídrico.
Nossa matriz energética é 90% hídrica e quando não é mais possível construir hidrelétricas, só nos resta as térmicas e com isso Belo Monte que poderia contribuir muito com a diminuição de emissão de carbono, fica no meio do caminho.
Soa realmente inusitado que o Brasil Debate “chame a atenção” para assuntos ambientais. A linha analítica do Brasil Debate é a de um desenvolvimentismo tecnocrático bastante primário, onde a sustentabilidade entra no máximo como perfumaria, e desde que não interfira na “produção” e no “crescimento”. A instrumentalização do “ambientalmente sustentável” por esse tipo de lógica do “progresso econômico” é ou ingenuamente míope ou simplesmente cínica.