Segundo relatório divulgado recentemente pela Organização das Nações Unidas, em todas as economias e culturas, as mulheres e as meninas são responsáveis pela maior parte dos cuidados não remunerados e tarefas domésticas. Elas fazem cerca de 2,5 vezes mais deste trabalho que os homens, com grande disparidades de gênero no tempo gasto para cozinhar, limpar e cuidar de membros da unidade familiar.
Segundo a ONU, uma das principais razões da pequena participação das mulheres na política e o reforço para a desvantagem socioeconômica das mulheres advém da divisão desigual das tarefas domésticas e de cuidado de crianças, enfermos e idosos.
Este envolvimento feminino no trabalho doméstico varia muito entre os países, dependendo da extensão e cobertura de serviços públicos, como água e saneamento, energia, saúde e cuidados infantis, no entanto, é notável que seja sempre predominantemente de responsabilidade das mulheres.
Na Figura 1 é possível observar que, no Paquistão, as mulheres gastam 10 vezes mais tempo se dedicando a tarefas domésticas que os homens. Na Albânia são 7,5 vezes mais minutos dedicados pelas mulheres e no Brasil são 3,9 vezes. Mesmo em Portugal a disparidade de tempo dedicado ao trabalho doméstico é considerável.
De acordo com a professora Maria Coleta de Oliveira e a pesquisadora Glaucia dos Santos Marcondes (2015), ambas da Unicamp, 90% das mulheres entre 16 e 60 anos responderam que realizavam algum trabalho doméstico semanalmente, contra apenas 40% dos homens na mesma faixa etária no ano de 2012.
Ao considerar a diferença de raças, é observável que uma maior proporção das mulheres negras (90,2% delas em 2008) se dedicava aos afazeres domésticos, enquanto 86,2% das mulheres brancas se dedicavam, 46,3% dos homens brancos e 45,8% dos homens negros, segundo Daniela Ramos (UnB).
A dedicação ao trabalho doméstico independe também da condição de ocupação segundo sexo. Mesmo os homens sem ocupação se dedicam às tarefas domésticas em menor proporção que as mulheres (Figura 2).
A média de tempo declarada pelos homens fica em torno de 9 horas semanais quando empregados e cerca de 11 horas quando desempregados.
Enquanto isto, as mulheres que se encontravam no mercado de trabalho declararam dedicar uma média não inferior a 15 horas por semana às tarefas domésticas, a despeito cumprirem jornadas entre 20 e 44 horas semanais fora de casa. Já as mulheres que se encontravam desempregadas dedicavam até 40 horas semanais às atividades domésticas. Estas informações são colocadas por Oliveiras e Marcondes e corroboradas por Wajnman (2012).
Segundo Glaucia Marcondes, ainda que as mulheres brasileiras avancem mais na escolaridade e tenham conquistado maior inserção no mercado de trabalho, a carga de trabalho doméstico não foi aliviado.
Ao considerar as regiões do país, nota-se que há pouca divergência no tempo dedicado às tarefas domésticas e aos cuidados entre elas (Figura 3).
É possível observar que a região onde as mulheres dedicam mais horas ao trabalho doméstico é o Nordeste (23 horas), seguida pelo Sudeste (20,3 horas). No Centro-Oeste, mulheres e homens gastam menos horas com afazeres domésticos (18,7 e 8,7 horas, respectivamente). A maior divergência de tempo dedicado entre os sexos se encontra no Nordeste (13,1 horas). As demais regiões apresentam uma diferença de cerca de 10 horas entre os sexos.
Ao se considerar as regiões metropolitanas, no ano de 2013, verifica-se que as mulheres residentes na Região Metropolitana de Fortaleza são aquelas que dedicam mais horas semanalmente aos trabalhos domésticos (23,3 horas), seguidas das mulheres da RM Belém (22,8 horas).
Os homens de Belém são também aqueles que dedicam mais horas aos trabalhos domésticos (14,4 horas), seguidos pelos homens de Recife (12,4 horas). A maior disparidade é verificada na RM Fortaleza (11,8 horas) e a menor na RM Rio de Janeiro (7,6 horas).
É importante destacar que os homens têm participado mais das atividades do lar, no entanto, a mudança de comportamento é mais lenta do que desejam as mulheres. Estes constrangimentos do uso do tempo impostos a elas levam-nas a uma inserção em empregos mais precários ou de jornadas reduzidas.
Além disto, segundo Berquó (2012), os estudos mais recentes sobre o número reduzido de filhos desejados abarcam também a questão de gênero. Segundo eles, a divisão desigual de atividades domésticas pode estar afetando a fecundidade, uma vez que há inequidade de gênero no cuidado não remunerado e trabalho doméstico.
Ou seja, o diferencial de dedicação aos afazeres domésticos afeta a inserção da mulher no mercado de trabalho, na política, sua participação na comunidade e na fecundidade desejada e, por conseguinte, conquistada.
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