Estratégia para Petrobras em 2018 segundo interesses ultraliberais

A mãe de todas as mentiras vem sendo gestada nos bastidores do grande capital para a esperada campanha eleitoral de 2018. Trata-se de “reflexão estratégica” sobre o petróleo dos brasileiros e sua principal empresa, a Petrobras.

Defende-se no neoliberalismo pós-golpe que a Petrobras desenvolva “parcerias público-privadas” para aceleração dos investimentos e, consequentemente, das exportações. Alega-se que a indústria do petróleo está com seus dias contados em face de inovações, tais como carros elétricos.

Alega-se ainda que os preços dos hidrocarbonetos dificilmente subirão, face a diminuição de demanda, mas também a renovada capacidade de regulação de estoques por parte dos EUA (xisto etc). O objetivo deste artigo é mostrar como o argumento apresentado pelo neoliberalismo encontra-se equivocado e como a tendência mundial é o aumento dos preços do petróleo, e não sua diminuição.

Conforme se pode concluir, os interesses financeiros são, majoritariamente, na direção do aumento desenfreado na produção de petróleo brasileiro. O condomínio minerador que se estabelece no Atlântico Sul terá participação modesta da Petrobras e, consequentemente, da indústria brasileira.

Não obstante, o balanço de pagamentos brasileiro será inflado de dólares, o que permitirá não apenas conforto na política de apreciação cambial, como também firme colateral de fluxos em dólares para assegurar atração de capital de curto prazo.

A farsa do “fim da era do petróleo” na discussão de estratégias para a Petrobras

Os neoliberais afirmam que a “era do petróleo” está no fim. Em seu lugar surgirão novas tecnologias que substituirão o petróleo como combustível, preservando-se o clima mundial. Alguns alegam que a queda no crescimento da demanda por combustível automotivo explica a decadência da indústria em médio prazo.

…nos países industrializados o consumo de energia (e de petróleo) já saturou. Há um limite do número de automóveis que um país pode ter; além disso, a eficiência dos motores aumentou significativamente, o que reduz o consumo. Nos Estados Unidos, por exemplo, já existem cerca de 250 milhões de automóveis em circulação, quase um para cada habitante (incluindo crianças!). Os países da Europa têm, em geral, mais de 500 automóveis para cada mil habitantes. [J. Goldemberg, Jornal O Estado SP, Opinião, 18.01.2016].

Compartilha-se ainda crença de que os Acordos Climáticos introduzirão restrições a demanda por petróleo, fazendo-se com que outras tecnologias venham a substituí-lo.

O governo precisa entender que o fim da era do petróleo está se dando por um pico de demanda e não de oferta, como se previa alguns anos atrás. E esse pico está mais próximo do que imaginamos, em função de restrições ambientais que motivam mudanças de hábitos e tecnológicas. Portanto, precisamos ter pressa em gerar riqueza com a extração do petróleo do pré-sal antes que entre em desuso. [A. Pires, Jornal O Estado SP, Opinião, 09.09.2017].

A posição pelo “fim da era do petróleo” justifica-se por tendências observadas na substituição de fontes de energia não-renováveis entre os países desenvolvidos e, ainda sim, circunscrito a projeções de manutenção de baixas tensões políticas no sistema-mundo.

O argumento parte de percepção inadequada do ambiente internacional. Para os próximos anos pode-se esperar aumento da guerra-fria, com desdobramentos esperados sobre a produção de petróleo no Oriente Médio. O encaminhamento, pelos EUA, do contraditório com o Irã e o Estado Islâmico, indicam causas prováveis para futuros aumentos nos preços de petróleo internacionais. Ou seja, os preços só cairão nos próximos anos se o Oriente Médio permanecer em paz.

Por outro lado, o consumo de gasolina no Brasil tem aumentado significativamente nos últimos anos, o que sugere mercado interno importante e que necessitará de energia barata e segura no longo prazo (Figura 1). Com isso, o ritmo de produção de petróleo dos brasileiros seria compatível com o ritmo de crescimento da economia, preservando-se riqueza para as gerações futuras.

Mesmo que se espere, em hipótese heroica, a substituição de todos os automóveis a gasolina por eletricidade, o tempo de substituição e a energia a ser gasta na produção de novos veículos levam a discussão definitivamente para o longo prazo.

Finalmente, deve-se lembrar que o Brasil já possui enorme fração da matriz energética ocupada por fontes renováveis. Realidade muito diferente da experimentada nos países desenvolvidos. Não bastasse a hidroeletricidade, o país conta com sólida base para produção de etanol. Dessa maneira, o crescimento do país pode perfeitamente acomodar transições a longo prazo, compatíveis com saídas para a indústria do petróleo.

Erro de conta

Como argumento definitivo de que o neoliberalismo energético não serve aos interesses dos brasileiros, imagine-se que todos os automóveis a gasolina venham a ser substituídos por carros a eletricidade.

Se somada a energia consumida em 2016 pelos automóveis a gasolina no Brasil em equivalente elétrico, tem-se cerca de 378 mil GWh. Este valor deve ser ainda corrigido pelo fator de eficiência do motor a combustão, que alcança, quando muito, modestos 35% da energia disponível.

Já o consumo de energia elétrica no Brasil em 2016 foi de cerca de 461 mil GWh em gasolina, sabendo-se que o motor elétrico converte em trabalho até 85% da energia disponível.

Pois bem, tem-se que a “difusão tecnológica” estritamente aos automóveis movidos a gasolina (sem contar ônibus e caminhões), exigiria ampliação em cerca de 34% do parque distribuidor de eletricidade brasileiro. Não há viabilidade em se imaginar que haverá pontos suficientes, espalhados pelo território, no médio prazo. As instalações são específicas, não se trata de ligar na tomada de casa. O volume implica em outro sistema de distribuição de energia elétrica (consumo em gasolina na ordem do residencial).

Convertido em potência, vê-se como necessária ampliação em 53 GW no parque gerador brasileiro! O Brasil possui algo em torno de 97 GW em hidrelétricas instalados. Ou seja, seria necessário esforço de ampliação de mais de 50% da capacidade para atender a demanda atual por carros elétricos!

Se cada MW exige investimentos entre US$ 2.000 e US$ 2.500, tem-se que a “economia verde” será responsável por obras de construção civil em no mínimo US$ 105 bilhões! Conclui-se que a narrativa neoliberal encontra-se carregada de erros técnicos grosseiros, merecendo-se reavaliação por parte dos formuladores.

Erro técnico?

Marx/Weber ensinaram aos construtores sociais da realidade a importância do conceito de ideologia. Trata-se do conjunto de narrativas que falseiam a realidade com objetivo de apropriação de poder e riqueza. Pois bem, a quem interessa a implementação da política proposta pelos neoliberais?

A urgência na extração de riqueza do pré-sal não é apenas da sociedade brasileira, mas também dos fabricantes internacionais e dos países importadores de petróleo: EUA, China, UE e Japão. Os dois últimos, praticamente sem produção e diante de dificuldades para crescer, disputam os apertados espaços no tabuleiro do petróleo internacional.

Desde 2011, os preços em dólares do barril de petróleo têm caído dramaticamente, o que não contribui como incentivo para aumentos na produção. A única exceção tem sido os EUA, que investem pesadamente em ampliação da produção nos últimos cinco anos. Entende-se que os EUA antecipam novo ciclo de aumento nos preços de óleo e derivados, fruto possivelmente de conflitos militares antecipados no Oriente Médio para o próximo ciclo político (2017-2021).

Mesmo na contramão dos “mercados”, que indicam excesso de oferta de petróleo após 2008, o Brasil apostou fichas junto com os EUA no aumento dos preços futuros. Caso implementado, o projeto brasileiro permitiria ao país inserção superior na cadeia produtiva do “ouro negro”. [Pinto, M A C, Brasil Debate (28.09.2016)]

No período entre 2006 e 2014 a Petrobras se preparou para consolidação do papel como líder na exploração do pré-sal. A política de conteúdo nacional visou ao desenvolvimento de geração de empreendedores industriais nacionais.

Para garantir a demanda, foi criada a SETE Brasil, joint venture entre a Petrobras e a engenharia privada brasileira para levar a cabo o desafio industrial. Planejaram-se cinco grandes estaleiros ao longo da costa brasileira, com objetivo de espalhar os efeitos multiplicadores de emprego e renda pelo território nacional. A Petrobras se tornaria uma das maiores empresas integradas de energia no mundo.

Houve pressões externas para abertura indiscriminada ao investimento estrangeiro. A aceleração da produção de petróleo nos EUA deveria encontrar contrapartida em investimentos para exploração das reservas brasileiras. A decisão estratégica tomada à época foi a de que seria necessário algum tempo até que os fornecedores brasileiros se capacitassem para atender às demandas por investimento da Petrobras. Não havia pressa. Os preços estavam em queda e o mercado interno havia esgotado fração do potencial de crescimento e consumo de energia.

A aceleração na produção do pré-sal só faz sentido em contexto internacional que antecipe aumento nos preços. Aumento inspirado por conflitos no Oriente Médio.

Ao lado da indústria internacional de petróleo, as finanças possuem interesse no aumento, a curto prazo, nos saldos em dólares do balanço de pagamentos. O aumento no fluxo corresponderá, sem dúvidas, a maior robustez cambial para entrada e saída de capital volátil. Em síntese, a narrativa neoliberal, apesar de muito mal construída, visa a atender aos interesses dos principais atores políticos no tabuleiro internacional – os banqueiros e os garimpeiros.

Crédito da foto da página inicial: Divulgação/Petrobras

Comentários

Uma resposta para “Estratégia para Petrobras em 2018 segundo interesses ultraliberais”

  1. Avatar de Diógenes Sá
    Diógenes Sá

    Este é um resumo preciso sobre as razões que levaram o Brasil a esta crise política, mascarada pela fabricação de uma recessão que esconde a expropriação do petróleo nacional pelas corporações estrangeiras e aumenta o lucro do sistema financeiro nacional e internacional.Melhor do que isso só mesmo a exclusão do Brasil como fornecedor competitivo de bens e serviços para o mercado internacional.As economias centrais agradece ao Grande Irmão do Sul.

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