Meados de junho de 2022 e os indicadores da pandemia de covid-19 no Brasil começam a refletir o caminho equivocado que autoridades públicas e boa parte da sociedade resolveram assumir de alguns meses para cá. A média diária de mortes, que tinha baixado de uma centena, volta a subir e, neste momento, está em 160. O número de casos também dispara – e olha que a testagem é falha.
Desde que governos municipais e estaduais de São Paulo e Rio de Janeiro partiram para o liberou geral de máscaras e de aglomerações, no que foram acompanhados por gestores de outras localidades país afora, infectologistas sérios e equipes como as da Fiocruz vêm advertindo para os riscos que esse caminho representa. “Conviver” com o vírus da covid-19 é bem diferente de ignorá-lo.
A pandemia não acabou, não sabemos quando vai terminar, mas o que a experiência tem nos mostrado nestes mais de dois anos é que tudo o que o vírus precisa é de meios para circular.
Ora, se a vacinação com a dose de reforço só há pouco alcançou mais da metade da população; se, apesar da melhora nos indicadores em comparação com 2021 e 2022, é evidente que o vírus ainda circula, por que essa pressa em baixar a guarda?
“Conviver” com a pandemia, indicava a sensatez, era retomar as atividades e a “vida normal” preservando medidas básicas: usando máscara, respeitando certo distanciamento físico, evitando-se multidões.
Indicava a sensatez que a volta de eventos ocorreria com certas limitações e exigências, como se ensaiou no início. As aulas precisavam retornar a escolas e campi universitários, porém observando regras fitossanitárias.
Com tudo isso teríamos uma retomada segura – incômoda, mas segura e definitiva.
Mas não. Parece que optamos por ceder ao negacionismo.
Andar pelas ruas, entrar em mercados, lojas, repartições, utilizar transporte coletivo é se deparar com ausência de cuidados elementares. Em shoppings, rodoviárias, aeroportos, banalização total de protocolos. Compreensivelmente cansada, e desorientada, a população – em boa parte sem perceber – foi relaxando, relaxando…
Não há mais campanhas de orientações, nem informações sobre andamento da vacinação. No noticiário, a pandemia é tratada de maneira burocrática: apresentam-se gráficos que compilam dados, e nada mais. Nenhuma análise, nenhuma instrução. Nada.
Quem tenta chamar a atenção para esse absurdo se vê obrigado a pedir licença, desculpas até, por fazer o papel de por a realidade diante dos nossos olhos. Dia desses, o médico sanitarista Claudio Maierovitch, da Fiocruz, coerente, preocupado com a piora dos indicadores coincidindo com o período de festejos juninos, advertiu em seu perfil no twitter:
– Vou ser o chato de plantão: não é seguro fazer festa junina agora! Para quem não puder evitar, vá com máscara de boa qualidade e sugira o mesmo aos amigos.
Maierovitch, Marcos Caseiro, Evaldo Stanislau, Ricardo Hayden, Margareth Dalcolmo e outros nomes mais: há uma porção de especialistas éticos, comprometidos com a ciência, cujas manifestações ajudam a nos guiar. Deixemos de fazer ouvidos de mercador, e restabeleçamos o zelo com a nossa saúde, e a da coletividade.
Crédito da foto da página inicial: Divulgação/Prefeitura de Belo Horizonte. Em destaque, da Avenida Afonso Pena, em BH, onde o uso de máscara em locais fechados voltou a ser obrigatório a partir de 14 de junho.
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