Cidades menores precisam fugir dos erros das metrópoles para crescer

A retomada de políticas como Bolsa Família, microcrédito, Minha Casa Minha Vida, Programa de Aceleração do Crescimento, expansão dos institutos de educação e universidades, entre outras, deve fazer nos próximos anos o Brasil voltar a experimentar um fenômeno visto recentemente: a expansão econômica e urbana de municípios de pequeno e médio porte, em especial no interior e rincões do país.

Aos gestores públicos locais, regionais e nacionais, à academia e instituições de pesquisa, aos movimentos sociais, à sociedade de um modo geral é preciso atenção a um risco: o da repetição dos erros que vimos no surgimento de nossas metrópoles, décadas atrás. O crescimento desordenado, pautado pela especulação imobiliária, pela ideologia do automóvel, pelo desrespeito às condições naturais, pela destruição do patrimônio histórico e arquitetônico é inaceitável.

Mas, se não tomarmos cuidado, seguimos por esse caminho sem percebermos, só nos dando conta quando os prejuízos baterem à porta. Por prejuízos entendam-se não só os financeiros, e sim, sobretudo, os de ordem social.

Trago um exemplo, visto in loco. No início deste ano, estive em Nossa Senhora da Glória, um dos mais importantes municípios do Sertão de Sergipe. Tem na produção leiteira um dos motores de sua economia. Além da agropecuária, destaca-se pela pujança do comércio e serviços. Desde 2015, sobressai-se como polo universitário também, quando passou a contar com campus da Universidade Federal de Sergipe (UFS).

Entre os censos de 2010 e 2022, a população do município cresceu em mais de um quarto (27%), passando de 32,5 mil para 41,3 mil habitantes. Percentual quatro vezes maior que a taxa média de crescimento populacional do país (6,5%), no período. Mais de cinco vezes que os 5% da região metropolitana de São Paulo, para se ter uma ideia.

Como dito, estive por lá, em janeiro, depois de nove anos. O crescimento populacional é notado pela expansão da zona urbana. Os limites da cidade avançaram por áreas que, até menos de uma década, ficavam afastadas do núcleo central. Avenidas e estradas foram abertas, shopping center e hipermercado foram erguidos, lojas de rede e grifes se instalaram.

Contudo, córregos e rios foram aterrados. Fundos de vales ocupados. O município não conta ainda com um serviço de transporte público. O carro e as motos, principalmente, têm preferência absoluta no tráfego urbano. Calçadas não foram alargadas, e ficam espremidas por leitos carroçáveis de trânsito intenso. Letreiros e painéis das marcas tampam a arquitetura original, descaracterizando a paisagem histórica e causando poluição visual.

O crescimento do município sergipano se intensificou no atual decênio, resultado das políticas de distribuição de renda e descentralização econômica dos governos populares de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) e Dilma Rousseff (2011-2016). Entretanto, tal decênio, como se sabe, foi marcado pelo desmonte acelerado do Estado, pós golpe de 2016. Ou seja, a expansão verificada foi coincidente com uma conjuntura de desgoverno.

O caso apresentado seguramente se repete em outros estados e regiões. Vivemos, como propaga o slogan, uma fase de reconstrução. Que ela seja caracterizada não apenas pelo retorno de ações, iniciativas e políticas públicas, mas que estas venham aperfeiçoadas, carregadas de aprendizados com os erros – e que constituam avanços, sustentáveis.

Crédito da foto da página inicial: Wagner de Alcântara Aragão/ Feira livre de Nossa Senhora da Glória, que vai de sexta-feira final do dia até sábado, hora do almoço, um dos símbolos da importância econômica regional do município. 

Comentários

Uma resposta para “Cidades menores precisam fugir dos erros das metrópoles para crescer”

  1. […] Wagner de Alcântara Aragão, especial para o Brasil Debate | De São Paulo […]

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