O setor sucroenergético vem questionando fortemente o Governo Federal sobre a política de preços “artificiais” da gasolina. A alegação é de que esta interfere no preço do etanol, que só consegue apresentar competitividade quando seu preço equivale a 70% do preço da gasolina.
Como o preço da gasolina vem sendo controlado desde 2011com o objetivo de manter a inflação dentro da meta, muitas usinas vêm apresentando queda de rentabilidade e até mesmo pedidos de recuperação judicial.
O preço interno da gasolina abaixo do preço internacional também pode ser explicado pelo aumento da importação do produto, após o governo ter acabado com a CIDE/Combustível (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico), em 2008.
Se houver o retorno da CIDE não será mais necessário importar gasolina e o consumo de etanol poderá ser restabelecido. Porém, o quadro atual não favorece tal escolha, com o consumidor optando pela gasolina em quase todos os Estados, exceto São Paulo, Goiás e Paraná, grandes produtores nos quais a paridade de preços etanol/gasolina ficou abaixo de 70%.
Além disso, há exatos oito anos, ocorreu a descoberta do pré-sal, que já ultrapassa a produção diária de 400 mil barris/dia e coloca o Brasil numa posição estratégica.
O gráfico mostra o volume crescente de reservas de petróleo no País, somadas as reservas do pré-sal às outras existentes.
A produção do pré-sal é de suma importância, pois, além da questão geopolítica, é geradora de investimentos em toda a cadeia da indústria de energia, já que a descoberta e exploração de petróleo em águas profundas provocou o desenvolvimento de tecnologia própria, por meio de parcerias com fornecedores, universidades e centros de pesquisa.
Além disso, a presidenta Dilma Roussef sancionou, em 2013, lei que destina 75% dos recursos dos royalties do petróleo para investimentos em educação e mais 25% para a saúde, além de destinar 50% do Fundo Social para a educação e saúde.
Para aumentar o coro contra o pré-sal, ambientalistas argumentam que o petróleo é uma energia do século passado e que o País deveria investir em energia limpa e renovável como o etanol, concedendo mais força ao setor sucroenergético contra a política de apoio ao pré-sal e a política de preços, que estaria minando o setor.
Possivelmente, a questão dos preços seja alterada após as eleições presidenciais, entretanto, não se sabe em que velocidade os subsídios serão retirados, o que ainda resultará em impactos negativos na Petrobras e no setor sucroenergético.
Porém, uma análise mais técnica do setor aponta que a situação estaria melhor se as usinas tivessem realizado inovações e melhorias no processo produtivo, gerando ganhos de produtividade. Estudos sobre o setor mostram empresas baseadas em inovações incrementais, que observam o comportamento da concorrência para a realização de inovações.
Ademais, há que se considerar a falta de habilidade do empresário padrão desse setor em inovar. Apesar de o etanol ser um combustível de vanguarda, o setor ainda é atrasado, com diversas unidades centenárias, sem muito investimento em renovação da estrutura produtiva, resultando em menor produtividade e maior pressão sobre a rentabilidade.
A produtividade da cana-de-açúcar apresentou declínio ao longo dos últimos anos, apesar dos altos recursos destinados via Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para o setor, os quais foram investidos em grande parte para a aquisição de terras e não para ganhos de produtividade no campo ou na indústria.
Um bom indicador para a produtividade é o ATR (açúcares totais recuperáveis), indicador da quantidade de energia que a cana possui e que determina o volume de produto (açúcar/etanol) obtido.
Tal indicador não apresentou crescimento nas últimas safras, saindo de 136,7, safra 2000/2001, pico de 146,72, em 2006/2007, e rendimento de 133,78, em 2013/2014.
Outro indicador de produtividade é o volume de cana obtido por hectare (ton/ha): a média brasileira não ultrapassou 85ton/ha.
De fato, houve leve crescimento, porém apresenta defasagem em relação aos ganhos obtidos por outras culturas, como soja, milho, algodão, assim como em relação ao rendimento teórico máximo da cana, que aponta para mais de 400 t/ha.
Assim sendo, será que somente o governo deve arcar com o ônus da crise no setor, dado que há diversas unidades/grupos com rentabilidade positiva, que realizaram investimentos em inovação e tecnologia e conseguiram se manter no azul apesar dos preços não favoráveis?
Não se deve negar que o setor cresceu e conseguiu tirar de operação unidades com defasagem tecnológica. Ou seja, momentos de crise servem para consolidação do setor, provocando melhoria na eficiência.
E não só as usinas não investiram pesado em inovação e tecnologia, como elas não podem se queixar de falta de financiamento público, pois os recursos destinados ao setor são crescentes e constantes, principalmente via BNDES.
Sem esquecer o etanol de segunda geração, que, apesar dos entraves, continua a ser uma grande aposta. Pois, apesar do maior custo de produção, mostra-se como uma possível resposta para a alta demanda interna e externa e as limitações de expansão de área e os tímidos ganhos de produtividade.
O BNDES é o grande financiador dos projetos de segunda geração, além de ter lançado parceria com a FINEP para um novo programa de incentivo, com auxílio ao desenvolvimento de projetos na área industrial e agrícola.
Deste modo, não se pode atribuir a crise do etanol apenas à política de preços do governo e aos incentivos fundamentais no pré-sal, alegando que o País está perdido em suas políticas. Pois os recursos do pré-sal são de suma importância para a educação e saúde.
Também se faz necessário intensificar a modernização do setor, por meio de parcerias das usinas com órgãos de fomento, universidades e centros de pesquisa, e da mudança de comportamento do usineiro tomador de inovações para um empresário capaz de criar inovações e tecnologias.
Para que o setor sucroenergético se torne cada vez mais eficiente e competitivo e garanta ao Brasil o papel que lhe cabe na oferta de energia limpa e de baixo custo.
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