A “informação” que FHC não quer ver

Aumentando sua lista de infelizes declarações, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou que o voto no PT é o voto dos “desinformados”. O comentário é absolutamente lastimável e vem sendo devidamente combatido por aqueles que, independentemente de sua opção política, repudiam a arrogância e o desrespeito contidos na fala de FHC.

A reação óbvia à declaração de FHC é o questionamento sobre quais informações devem fundamentar um voto. Há uma lista pré-determinada de informações? Quem a definiu? Essas informações devem ser inseridas em um modelo matemático que definirá o “voto dos informados”? Existe um manual do voto “correto”? Talvez FHC tenha encontrado esse manual em inglês ou francês e fique indignado que os brasileiros não tenham capacidade de lê-lo.

Ainda que em meio a essas dúvidas, gostaria apenas de repercutir um dado que acaba de ser divulgado e que talvez seja uma informação relevante na decisão de voto de muita gente: a taxa de desocupação no Brasil caiu para 4,9%, a menor taxa para o mês de setembro desde a origem da série histórica, em 2002.

Na verdade, a informação recém-divulgada apenas corrobora a tendência que vem sendo observada desde o início do Governo Lula, em 2003, e que persiste no Governo Dilma, como mostra o gráfico abaixo.

grafico taxa de desocupação media

A série acima não retrocede aos anos anteriores, mas todas as demais pesquisas – inclusive a própria pesquisa do IBGE com a metodologia anterior – mostram que no governo FHC a tendência foi exatamente a contrária, com a taxa de desemprego subindo consideravelmente durante seus mandatos.

De toda forma, essa ausência de uma série mais longa não parece ser um problema. A maioria dos brasileiros talvez nem conheça essas informações estatísticas, até mesmo porque a mídia não dá a elas o devido destaque. Mas esses brasileiros não precisam ler os jornais ou acessar a base de dados do IBGE para obter tais informações. Eles a conhecem pelo seu dia a dia.

Eles a conhecem, porque durante os governos do PSDB o desemprego atingia uma quantidade imensa de famílias brasileiras, seja como ameaça permanente, seja como realidade concreta. Não só a taxa de desemprego era mais elevada e crescente, como o tempo para encontrar outro emprego chegava não raramente a um ou dois anos.

Mesmo sendo um sociólogo muito bem informado, FHC talvez não possa entender o que significa concretamente a realidade do desemprego, por isso não dá tanta importância a essa “informação”. Mas muitos brasileiros, sobretudo de classes mais baixas, sabem muito bem o que é o desemprego, preocupando-se com essa “informação” e obtendo-a de forma não muito sofisticada, mas tremendamente eficaz: a partir de suas vidas.

Para os programas de governo do PSDB (e o de Aécio Neves não é diferente), um possível remédio contra o desemprego seria o estímulo ao chamado “empreendedorismo”. É evidente que, estando em uma sociedade capitalista, o empreendimento é necessário. Mas será que ele deve ser encarado como uma forma efetiva de combate ao desemprego?

Ele deve ser um foco importante das políticas públicas para o Brasil atual? Para responder a essa pergunta, é preciso antes perceber que o dito “empreendedor” não se restringe aos grandes empresários de sucesso; não se restringe, tampouco, aos jovens estadunidenses que criam aplicativos e enriquecem da noite para o dia.

O empreendedor padrão, no Brasil, é o trabalhador que, não encontrando emprego, procura alternativas para ganhar alguma renda, de forma muitas vezes improvisada e precária; é o trabalhador vulnerável, que luta cotidianamente para sobreviver e sustentar sua família, sem qualquer tipo de proteção.

O que a maioria dos brasileiros quer, portanto, não é empreender, mas, simplesmente, ter um emprego. Mais do que isso, um emprego de qualidade e com proteção social.

E aí chegamos ao último ponto. É absolutamente necessário pensar nas ocupações não apenas em termos quantitativos, mas também qualitativos. O mercado de trabalho brasileiro continua sendo extremamente precário e as condições de vida da maioria dos trabalhadores brasileiros é ainda bastante indigna. As lutas por conquistas devem continuar ou mesmo se ampliar e qualquer que seja o resultado das eleições, uma luta imediata será contra a lei que pretende facilitar as terceirizações e contra toda forma de flexibilização do mercado de trabalho que incorra em perdas para o trabalhador.

Emprego e questões trabalhistas precisam, portanto, estar no centro dos debates, durante e depois das eleições. Mas, provavelmente, isso não consta do “manual do voto” de FHC. Talvez porque ele busque suas “informações” nos países europeus, onde o receituário neoliberal de arrocho fiscal e de “modernização do mercado laboral”, defendido por FHC e Aécio, tem precarizado as relações trabalhistas e destruído postos de trabalho em escala massiva, sobretudo para os jovens.

Comentários

Uma resposta para “A “informação” que FHC não quer ver”

  1. Avatar de Nadia Z, Raggio
    Nadia Z, Raggio

    Concordo com voce e fico injuriada com essa mídia que faz o jogo neoliberal definindo pautas que “desinformam” a sociedade.

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