Mês passado aconteceu a primeira etapa do Encontro Paulista de Formação “Juventude e Economia e Solidária” no Vale do Ribeira, Estado de São Paulo. O encontro foi organizado pela Rede Paulista de Educadoras e Educadores em Economia Solidária que, desde 2009, com o apoio do CFES (Centro de Formação em Economia Solidária), vem construindo redes estaduais de formadores que executam atividades pedagógicas em diversas regiões do Brasil.
Entender a juventude como motor de transformação e agente de mudança do modelo econômico atual é o primeiro importante passo para potencializar a organização do movimento de economia solidária.
Quando olhamos para o cenário econômico e político, a juventude é a primeira a sofrer em tempos de crise. No relatório “Tendências globais de emprego para a juventude 2015”, a OIT (Organização Internacional do Trabalho) aponta que a realidade do jovem trabalhador é bastante pessimista.
A OIT anunciou em 8 de outubro desse ano que a taxa de desemprego entre jovens de 15 a 24 anos no país irá superar a mundial, atingindo números altos de 15,5%, e a tendência é aumentar em 2016.
Ao pensarmos o mundo do trabalho, as alternativas que os jovens encontram não respondem às suas necessidades, os coloca num beco sem saída, da exploração e da desvalorização, matando aos poucos sua energia e capacidade de inovação.
A economia mundial baseia-se no modo de produção capitalista, que não atende às necessidades sociais, mas à satisfação dos proprietários e patrões por meio do lucro. Assim, surge no Brasil, a partir da década de 1980, a economia solidária como um movimento social. O cenário era de grande desemprego, privatizações de serviços públicos e desvalorização do trabalho humano (MASCARENHAS, 2010).
Foi nesse contexto que as experiências de cooperativas, autogestão e conceituação de economia solidária surgem. O termo economia solidária é ainda bastante polêmico. Porém, entendemos melhor o que é essa saída econômica quando identificamos o contrário do seu significado: as relações travadas no mercado capitalista.
Paul Singer define, em Economia Socialista (2000): “A economia solidária casa com o princípio da unidade entre posse e uso dos meios de produção e distribuição […] com o princípio da socialização dos meios […]”. No caderno 5 do projeto Casa Brasil , a economia solidária surge como alternativa, não só na geração de renda e trabalho, mas de ressignificação das próprias vivências dos jovens e de seus estilos de vida.
Muito mais que teoria, a economia solidária é um movimento que se espalha de forma organizada e em redes por todo o Brasil. E, mais bonito, transforma a vida de famílias e jovens. Essa é a proposta da Rede Paulista de Educadores e Educadoras em Economia solidária com o Encontro Paulista de Formação de tema “Juventude”.
Participaram da primeira etapa jovens de diversos movimentos, como o Levante Popular da juventude, movimento nacional de catadores de resíduos sólidos, artesãos, movimentos de cultura, de agroecologia, de mulheres etc.
Aconteceu entre os dias 1 e 4 de outubro no Quilombo Ivaporunduva, no Vale do Ribeira, lugar de resistência, educação ambiental e de economia solidária.
O espaço proporcionou a vivência no quilombo, diálogo sobre a conjuntura nacional da juventude brasileira, e o fortalecimento da Rede JuveSol (Articulação Nacional da Juventude de Luta e Solidariedade, por uma outra Economia e Formas de Trabalho para o Campo e para Cidade).
Ainda para acontecer, a segunda etapa do curso continuará a discutir a economia solidária no Estado de São Paulo, propondo capilarizá-la, fortalecendo-a nos nossos territórios de atuação de modo a influenciar nossas ações.
Reforma ministerial
Apesar disso, a Secretaria Nacional de Economia Solidária (Senaes), criada em 2003, conquistada pela reivindicação dos movimentos sociais organizados em torno da economia solidária, corre risco de sofrer grandes mudanças na equipe, estrutura e orientação estratégica com a reforma ministerial.
Anunciadas no portal do governo no dia 02 de outubro, pela presidenta Dilma Rousseff, as mudanças foram: a extinção de 8 ministérios, 30 secretarias e 3 mil cargos em comissão, entre outras providências. Também foi redesenhada a atuação das pastas que foram mantidas, com a incorporação de funções consideradas importantes e que serão mantidas.
Não somente a Senaes pode submeter-se com tal reforma, mas outras secretarias também, como a Secretaria Nacional de Juventude, da Previdência e Secretarias de Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos que foram integradas.
Em meio à atual crise política, o governo optou por reduzir a grande quantidade – necessária e fundamental – de ministérios, para cortar gastos e recuperar o apoio do PMDB. Mas a reforma ministerial foi um tiro no pé, pois muitas secretarias são resultado de reivindicações dos movimentos e da enxuta base do PT, que está incrédula com os cortes – os quais só dificultam os avanços na conquista de direitos da classe trabalhadora.
Em nota, o Fórum Brasileiro de Economia Solidária (FBES) divulga: “Acreditamos que teremos de fato uma economia que esteja na mão de todas as pessoas e não de uma minoria, uma economia que gere vida em qualidade para todos e não somente para alguns, uma economia que garanta um meio ambiente saudável e alimentos livres de agrotóxicos e transgênicos para a população de nosso país”.
Constituinte
Em meio a atual crise política, a saída é uma Constituinte Soberana do Sistema Político. A Campanha da Constituinte pede a realização de uma assembleia de deputados eleitos pelo povo para modificar a economia e a política do País.
Essa é uma bandeira concreta de luta que dá a possibilidade de mudarmos “as regras do jogo”. Assim, a saída é somar as forças dos movimentos, partidos, coletivos e cooperativas nessa campanha para que o povo consiga pautar uma nova representação, um novo jeito de fazer economia, uma economia mais justa e solidária.
Referências
MASCARENHAS, T.O caráter educativo da economia solidária: o caminho do desenvolvimento como liberdade a partir da experiência da Cooperafis. São Paulo, 2010.
Singer, Paul. Economia Socialista, Editora Fundação Perseu Abramo. São Paulo, 2000.
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