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Uma relação entre inflação e distribuição de renda — | Brasil Debate |

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Leandro Gomes

É doutorando no PPGE/UFRJ e professor assistente do ITR/UFRRJ

 
Leandro Gomes

Uma relação entre inflação e distribuição de renda

Nos últimos anos no Brasil, a despeito da proposição genérica e equivocada de que a inflação sempre prejudica mais quem ganha menos, a inflação mais elevada ocorre concomitantemente a uma melhora na distribuição e crescimento do salário real

05/11/2014

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Um dos pontos mais discutidos durante a campanha eleitoral foi a proposição de que a inflação voltou e/ou está descontrolada. Paradoxalmente, essa discussão ocorre analisando-se um período no qual o salário real cresceu no Brasil.

Desde 2010, último ano do governo Lula, a taxa de inflação brasileira tem oscilado entre 4,5% e 7% ao ano no acumulado 12 meses, ou seja, dentro de uma margem de 2,5 pontos percentuais, o que não sugere perda de controle. Ela está, de fato, mais elevada do que nos anos anteriores.

Dois fatores são os principais responsáveis por estas taxas mais elevadas: a evolução do preço, dentro do Brasil, das commodities, o que depende do preço internacional das mesmas e da taxa nominal de câmbio; e o crescimento do custo unitário do trabalho, que eleva, especialmente, a inflação de serviços.

Em relação ao primeiro fator, é inimaginável um mecanismo de política econômica a ser adotado no Brasil que afete substancialmente a cotação das commodities no mercado internacional a ponto de, isoladamente, reduzir a inflação brasileira.

Uma alternativa factível seria valorizar o câmbio nominal para reduzir o impacto do crescimento dos preços internacionais no mercado doméstico.

Essa estratégia foi bastante usada no governo Lula, porém revertida no governo Dilma com o objetivo de aumentar a competitividade da economia brasileira, em especial da indústria.

Temos, então, que o primeiro fator a explicar as taxas mais elevadas está associado à evolução dos preços internacionais e ao objetivo de elevar a competitividade por meio  da taxa de câmbio.

tabela taxas medias de variacão

O segundo fator está associado à mudança na distribuição dentro do mercado de trabalho. Desde 2006, o custo unitário do trabalho (salário nominal/produtividade) cresce no Brasil, principalmente no setor de serviços e, dentro do setor de serviços, cresce mais nos segmentos de menor qualificação, que são os de menor remuneração.

O setor de serviços é intensivo em trabalho e o crescimento da produtividade é baixo, o que faz com que o crescimento do salário nominal eleve o custo unitário do trabalho.

A inflação salarial está comandando um processo de mudança de preços relativos que acontece simultaneamente ao crescimento do salário real, como podemos observar na tabela acima.

A elevação do salário nominal tem como efeito, em princípio, a elevação do poder de compra dos assalariados. Entretanto, em uma economia, um agente produz o que o outro consome.

Uma grande elevação da renda dos assalariados do setor de serviços encarece a cesta de consumo dos agentes que consomem esses serviços, o que pode levar a uma redução do poder de compra de parte dos agentes.

A grande questão, então, é saber quais segmentos estão se beneficiando da mudança de preços relativos e quais faixas de renda apresentam crescimento do poder de compra.

Nos últimos anos no Brasil, a despeito da proposição genérica e equivocada de que a inflação sempre prejudica mais quem ganha menos, a inflação mais elevada ocorre concomitantemente a uma melhora na distribuição e crescimento do salário real.

Até 2005, por exemplo, diversas vezes ocorreram elevações do preço das commodities e a inflação ficava mais baixa que a atual, pois o crescimento do salário nominal, e do custo unitário do trabalho, era baixo, resultando em queda do salário real.

Esse não é o caso, porém, da trajetória recente. É justamente a inflação salarial que não apenas tem evitado a queda como promovido o crescimento do salário real dos segmentos de menor remuneração do mercado de trabalho e comandado a mudança na distribuição.

Cabe lembrar que a distribuição só muda se a remuneração de quem ganha menos crescer mais rápido do que a de quem ganha mais.

Em uma sociedade menos desigual, uma série de serviços ainda muito presentes na cesta de consumo da classe média brasileira necessariamente custam mais caro.

A tendência de longo prazo verificada nos países desenvolvidos é que estes serviços, especialmente os serviços domésticos, acabem tendo sua importância gradativamente reduzida na cesta de consumo das famílias.

Em boa medida, pode-se creditar a reação a elevação moderada das taxas de inflação a este fenômeno da redistribuição e a mudança de preços relativos.

Certamente, o encarecimento de serviços pessoais, que inexoravelmente levará à modificação dos padrões de consumo das classes de mais alto rendimento, explica ao menos parte do desconforto quanto ao comportamento da inflação.

Conviver com uma taxa de inflação um pouco mais elevada, ao redor de 6% ao ano, desde que estável, é um preço muito razoável a se pagar para caminharmos em direção a uma sociedade menos desigual, na qual necessariamente uma série de serviços prestados às famílias são mais caros.

REFERÊNCIAS:

MARTINEZ.  T.S. Compatibilização de mudanças em classificações desagregadas do IPCA (1999-2014). Texto para Discussão do IPEA. No prelo. Brasília: IPEA, 2014.

SUMMA, R. (2014) Uma nota sobre a relação entre salário mínimo e inflação no Brasil a partir de um modelo de inflação de custo e conflito distributivo. Texto para Discussão n° 12, IE UFRJ, 2014. (Disponível AQUI ).

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8 respostas to “Uma relação entre inflação e distribuição de renda”

  1. Ronaldo Coutinho disse:

    Gostaria de parabenizar o autor pelo artigo, que traz luz ao efeito do trabalhador (pessoal) na macroeconomia.
    Muito interessante esse ângulo de enxergar todo o processo.

  2. […] O crescimento do salário nominal está orientando uma mudança de preços relativos que ocorre simultaneamente ao aumento do salário real e à melhora na distribuição dentro do mercado de trabalho. Mais do que isso, é justamente a inflação salarial que tem promovido o crescimento do salário real e a mudança na distribuição (leia mais em Uma relação entre inflação e distribuição de renda). […]

  3. Rogerio disse:

    “Conviver com uma taxa de inflação um pouco mais elevada, ao redor de 6% ao ano, desde que estável, é um preço muito razoável a se pagar para caminharmos em direção a uma sociedade menos desigual”

    Com certeza é muito bom que na média os salários reais não cairiam nos últimos anos (o meu caiu com certeza) mas pergunto se taxa de inflação alta é realmente um “preço” necessário? Por que não investimos em aumento de produtividade? Se fizéssemos a lição de casa quem sabe não teriamos os mesmo 9% de crescimento anual de salário e ao mesmo tempo um crescimento real de 6%, praticamente dobrando a velocidade de enriquecimento da população?

    Outro comentário que gostaria de fazer: PIB não é somente a soma da renda dos trabalhadores (massa salarial) mas deixe-me fazer um paralelo entre ambos. De acordo com a tabela acima, o crescimento real dos salários entre 2010 e 2013 foi de 3% a.a. Assumindo um crescimento de 1% a.a. de pessoas ocupadas (não tenho esse número exato ao escrever mas julgo essa como uma premissa conservadora), teríamos aproximadamente 4% a.a. de crescimento da massa salarial. Ao mesmo tempo, o PIB cresceu pífios 2% a.a. O que essa diferença significa? Problemas à vista no futuro das empresas brasileiras e o Custo Brasil aumentando?

  4. Ciro d'Araújo disse:

    Eu já tinha essa intuição de que a inflação persistente (e resistente aos choques monetários, como pode ser visto pela não conversão da inflação ao centro da meta mesmo após sucessivos aumentos da Selic) estava mais relacionada a uma recomposição dos preços relativos, e dado a “stickness” dos salários e a indexação do mínimo. Imagino que a abrangência do seguro desemprego atrelado ao mínimo também tenha alguma relação (e explicaria o porque dos aumentos na concessão de seguro desemprego mesmo com uma situação de desemprego baixo – seria parte da negociação de um nível salarial mais alto).

    Procurando na literatura sobre isso (eu lembro de ler sobre os níveis de inflação na Alemanha e na França pós-guerra – quando houve grande redução da desigualdade no Piketty), só achei o seguinte trabalho:

    http://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=2444710

    This paper explores the empirical link between income inequality and inflation in ten OECD countries over the period 1971 to 2010. In addition to inflation, we include six control variables in our analysis: economic development level, business cycles, unemployment, unionization, openness to international trade and skill-biased technological change. We estimate the empirical link between all seven variables and income inequality with a balanced panel. We find a U-shaped link between long-run inflation and income inequality. Low inflation rates are associated with higher income inequality. As inflation goes up, inequality decreases, reaches a minimum with an inflation rate of about 13%, and then starts rising again. The precise mechanisms that lead more inflation to correlate with a decrease in income inequality until a certain threshold are unclear yet, and warrant further research.

  5. Maria Auxiliadora Alves da Silva disse:

    Abordagem original. A maioria dos economistas, acostumada a lidar com contextos em que os ajustos sempre recaem sobre os que estão no andar de baixo, não está dando conta de explicar o que vem ocorrendo no Brasil. Há que se mudar o olhar, para se conseguir fazer uma abordagem assim. Parabéns, Leandro!

  6. Freitas Jr disse:

    Bem diferente de quando a inflação provocava a concentração de renda em décadas passadas. Quanto mais concentrada a riqueza, mais rígido os índices de inflação. Simples: com os salários engessados por um tempo, a elite econômica segurava os estoques aguardando os reajustes serem superados pela alta das mercadorias, e aí compensava as perdas momentâneas de reajuste salarial. Alardeava-se na época que eram os reajustes salariais que provocavam a inflação. Portanto, mais arrocho, mais concentração de renda.

Comentários para Leandro