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O voto da periferia: Por que João Dória? — | Brasil Debate |

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Danilo Sartorello Spinola

É doutorando em Economia no Maastricht Economic and Social Research Institute on Innovation and Technology (UNU-MERIT) e pesquisador colaborador no Núcleo de Economia Industrial e da Tecnologia (NEIT) da Unicamp. Economista e sociólogo pela Unicamp, mestre em economia pela Unicamp, foi consultor na CEPAL-UN

 
Danilo Sartorello Spinola

O voto da periferia: Por que João Dória?

Apesar de nossos lamentos por parte da esquerda, cabe uma reflexão autocrítica. As apostas exitosas de inserção via consumo dos governos Lula/Dilma geraram uma força política que, paradoxalmente, rejeita o próprio projeto econômico-social progressista

03/10/2016

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Há uma tendência na tradição política brasileira que vem do nosso senso comum em acreditar que o projeto político da esquerda esteja associado aos interesses da grande massa populacional e da classe trabalhadora. Por outro lado, associa-se à elite o projeto político de direita.

Pois, nos meses que antecederam as eleições municipais, em um dos raros momentos da política brasileira, tivemos um candidato que abertamente defende um projeto liberal, privatista e que se põe como o representante da classe empresarial capitalista. O resultado, para muitos inesperado, foi a vitória de tal candidato no primeiro turno nas eleições municipais da maior cidade do país.

A surpresa maior se dá ao observar a eleição por subprefeitura. Não foi uma eleição polarizada. Praticamente toda a cidade votou em João Dória. Foi a eleição de um candidato. As causas explicativas desse fenômeno são distintas e vão desde os efeitos da Lava Jato e a descrença com o PT até uma tradição conservadora dos paulistas (os mesmos que recentemente elegeram Haddad, Marta e Erundina).

No entanto, o fator que quero destacar é como um candidato tão caricato como representante da elite paulistana, que rachou o próprio partido, pôde ter apoio tão maciço nas periferias.

Dória é o que almeja ser o paulistano. É o típico referencial. O mito do self-made man. Um empresário dito de sucesso, homem com acesso ao mais luxuoso padrão de consumo. Aquele que pode tomar as decisões que quiser, que pode pegar seu jatinho de manhã com uma linda mulher para comer caviar em Miami e terminar a noite caminhando pela Champs Elisée em Paris. Como Dória chegou a isso, cabe ignorar, mais vale crer no mito da meritocracia.

Apesar de nossos lamentos por parte da esquerda, creio que cabe a esta uma reflexão autocrítica. As apostas exitosas de inserção via consumo dos governos Lula/Dilma geraram uma força política que, paradoxalmente, rejeita o próprio projeto econômico-social progressista.

As pessoas, cada vez menos, almejam ou acreditam no acesso ao bem-estar, mas buscam, sim, mais ter dinheiro para pagar por ele. Um prefeito como Haddad, que deu alguns ares civilizatórios à cidade não cabe na equação.

A visão de coletividade do processo social ganha ares de hiper-individualismo na chamada classe C e D, e a eleição de Dória deixa explícito quais são suas preferências. Querem ser Dória. E isso fez Capão Redondo em massa apoiá-lo.

E deixo um elemento mais crítico. Se há uma força social que, sim, une a periferia, ela está centrada no poder das igrejas evangélicas, em sua maioria abertamente ultraconservadoras.

À esquerda cabe pensar a partir desse dado. Como recolocar em debate às periferias (e também às elites) um projeto progressista? Um projeto de bem-estar que deixe claro a necessidade da sociabilidade e da vida em coletividade, aquela da constituição de 1988?

Que defenda interesses de minorias, mas sem impor conjuntamente a tal defesa de um projeto que contrarie as aspirações das classes sociais emergentes? E que defenda, antes de tudo, a democracia?

Ou seja, um projeto republicano que fortaleça um sentimento de solidariedade orgânica que avança em um sentido cada vez mais fragmentado, mas que é fundamental e necessária para enfrentar os desafios do desenvolvimento, da superação das desigualdades, melhoras da saúde, educação, infraestrutura e redução da criminalidade…?

Fica aberta a reflexão.

grafico capao

Crédito da foto da página inicial: EBC

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3 respostas to “O voto da periferia: Por que João Dória?”

  1. braulison Felizardo Viana disse:

    Considerando que a maioria dos brasileiros não sabem o que significa partidos esquerda ou direita, muito menos os que seguem tais ideologias, não é de se espantar que grande parte dos integrantes das classes C & D não saibam o que é neoliberalismo e votem em qualquer um aventureiro não envolvido em escândalos. A acensão da classe média apoiada no consumo trouxe para o interior dos lares tanto os bens de consumo como canais de TV aberta ou fechada partidarizados e empenhados na divulgação de sua agenda própria. A eleição do Dória parece mais o resultado daquela máxima: Vamos trocar para ver no que vai dar!
    A revolução chinesa liderada pelo Mao deixa-nos lições, o proletariado não só tomou o poder como também dissemino sua ideologia nos centros de formação de opinião.

  2. Moraes disse:

    Embora tenha dúvidas sobre alguns detalhes, o artigo chama atenção para coisas fundamentais. Por exemplo, o abandono [pela tal nova classe media] da pauta “coletivista-cidadã” em troca da “individualista-consumidora” como caldo de cultura adequado à escolha de um candidato que espelhe essa pauta. Resta detalhar isso, hierarquizar as questões e estudar melhor. Citadas pontualmente, as igrejas pentecostais alimentadas pela “teologia da prosperidade” são parte relevante do fenômeno. CAbe explicar detalhadamente o fenômeno e, tambem, porque demoramos tanto a diagnosticar. Mais ainda: por que demoramos tanto a apresentar alternativa efetiva e credível?

  3. Leonor Bueno disse:

    Muito boa a análise. Inclusão é bom, mas sobretudo pela educação e sem idolatrar o consumismo.

Comentários para Leonor Bueno