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O macho alfa e a presidenta — | Brasil Debate |

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Marina Pereira Pires de Oliveira

É Jornalista especializada em direitos humanos e minorias. Trabalhou com o enfrentamento ao tráfico de pessoas no Ministério da Justiça e no Escritório das Nações Unidas contra Drogas e Crime. Desde 2008, é assessora especial da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial

 
Marina Pereira Pires de Oliveira

O macho alfa e a presidenta

Não é possível que, depois de tantas conquistas e lutas, as mulheres brasileiras possam votar sem estarem plenamente conscientes do sexismo que domina a figura do candidato do PSDB à Presidência e das implicações subliminares e culturais de uma possível vitória de Aécio no segundo turno

21/10/2014

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As eleitoras demoraram um pouco, mas já começam a acordar para o significado de uma possível eleição do candidato do PSDB, Aécio Neves, à Presidência da República.

Uma pesquisa rápida no Google, em 16 de outubro, tendo como referência as palavras “Aécio + Mulheres”, retorna o seguinte resultado, ordenado por número de acessos: em primeiro, notícias relacionadas ao risco de cortes orçamentários na Secretaria de Políticas para as Mulheres. Em segundo e terceiro lugar (pasmem!), blogs altamente sexistas, batendo recordes de acesso ao apresentarem: “10 mulheres gatas que o Aécio já pegou” – versão repaginada do viral de internet anterior: “10 motivos para votar no Aécio”, que mostrava mulheres bonitas com as quais o presidenciável já se relacionou.

Desnudar os comportamentos sexistas do candidato Aécio Neves e seu poder de incentivar os machistas de plantão a saírem do armário, com comentários de baixo calão nas redes sociais, nos bares e nas ruas do Brasil, é tomar consciência do simbolismo em jogo na atual campanha presidencial.

Ao fazer uso à exaustão da imagem da mulher-objeto, da qual as brasileiras, na sua imensa maioria, têm tentado se livrar nos últimos 100 anos, por meio de muita luta, o candidato tucano torna-se o herói de homens que não conseguiram, até hoje, engolir o fato de uma mulher ter chegado à Presidência do Brasil, em 2010.

Pior. O patriarcado e os chauvinistas estão ao lado de Aécio para derrotar uma mulher que foge do estereótipo da boazuda, burra e que chegou ao poder vestida com a seriedade de uma militante de esquerda, torturada pela ditadura, separada e forte.

Uma parte do Brasil se vinga agora de Dilma, por ter desfilado em carro aberto na sua posse como presidente ao lado da filha e não do marido, como caberia a uma “mulher direita” neste País, que, no século 21, segue sendo arcaico em seus valores culturais e sociais.

Recordo-me dos palavrões dirigidos a Dilma na abertura da Copa do Mundo, em São Paulo. Quando um político homem, por mais corrupto e safado que fosse, teve que passar por xingamentos públicos de tamanha agressividade?

Cena deletéria repetida pela militância tucana, que berrava na entrada do debate da TV Bandeirantes, no último dia 14/10 : “Vaca! Vaca!”, com muita delicadeza. Tais atitudes mostram os efeitos colaterais causados pelo crescimento da candidatura de Aécio, o playboy bem-sucedido, transformado em salvador da pátria, simplesmente porque as circunstâncias o levaram a ser o candidato que pode colocar a primeira mulher presidente do Brasil em seu devido lugar, fora do poder.

Não importa o currículo e nem o passado de Aécio, neste momento, muitos sequer o enxergam, mas o apoiam porque, do ponto de vista simbólico, representa a retomada do poder pelos machos, e ainda por cima de tudo, bem nascidos do Brasil.

Lembrar que as mulheres têm um valor, para muito além das suas características físicas e dos seus atributos sexuais, e tratá-las com respeito é valorizar a cidadania de todos os brasileiros.

A construção da verdadeira democracia passa pelo enfrentamento de múltiplas desigualdades, características do Brasil. Diferenças de renda sim, mas também regionais, de gênero, de raça e de orientação sexual, para citar somente algumas.

Dilma, no seu estilo durão, fere de morte o estereótipo da mulher doce e meiga e, ao fazê-lo, provoca reações inflamadas. Mas que trabalhadora brasileira não sabe o quanto é preciso se impor, gritar e ameaçar, para ganhar o respeito dos outros no mercado de trabalho, na rua, com os filhos, com os companheiros, na oficina mecânica ou dentro de um ônibus lotado, no nosso País?

E a outra candidata mulher, Marina Silva, hoje apoiadora ferrenha do candidato e macho alfa Aécio Neves? Quem se lembra qual era uma das principais críticas dirigidas a ela no primeiro turno? Diziam que ela podia não ter capacidade para governar porque passa muita fragilidade.  E desde quando a fragilidade, inerente à condição humana, é sinal de fraqueza?! Desde que se convencionou que o sexo frágil é o feminino.

Não é possível que, depois de tantas conquistas e lutas, as mulheres brasileiras possam votar sem estarem plenamente conscientes do sexismo que domina a figura do candidato do PSDB à Presidência e das implicações subliminares e culturais de uma possível vitória de Aécio no segundo turno.

As mulheres são maioria no eleitorado e influenciam muito mais que os homens o voto de seus filhos e familiares. Dilma precisa estabelecer um diálogo mais claro e direto com as mulheres.

Creio que é obrigação também da candidata puxar esse debate, explicitando os preconceitos e valorizando a mulher brasileira como cidadã plena e não como a mercadoria que, durante tantos anos, até antes do governo Lula, a propaganda oficial “vendia” no exterior como nosso principal “produto de exportação”.

A eleição, que deveria ser uma maravilhosa festa da democracia, não deve servir para dar vazão aos ódios de todo tipo, nem tampouco para autorizar comportamentos coibidos a duras penas após muita luta.

O Brasil quer paz e respeito e as mulheres, acima de todas as pessoas, são as que mais valorizam a paz porque são as que mais lutam contra todo tipo de violência – violência contra elas mesmas e contra seus filhos, sobretudo nas periferias do Brasil.

Um voto não é apenas uma opção política, mas também uma escolha simbólica com repercussões culturais e psicológicas, sobretudo para as gerações futuras. Será que o Brasil, depois de eleger um retirante nordestino e uma mulher militante como presidente, quer mesmo substituí-los por um playboy cujos atributos mais elogiados na internet são as mulheres com que ele se relacionou? A resposta cabe a cada uma de nós, em 26 de outubro.

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32 respostas to “O macho alfa e a presidenta”

  1. […] Artigo publicado originalmente no Brasil Debate […]

  2. eleonora farias disse:

    Ainda vivemos uma cultura sexista em que a mulher é vista por muitos homens e pasmem, por mulheres tambem, como “produto de cama e mesa”. Aécio é um retorno ao maior atraso politico e social que este pa~is viveria.Dilma representa não a perfeiçao mas a caminhada segura de que as políticas sociais continuarão.

  3. Ana Joaquina Belasquem Gentilini disse:

    Excelente texto. Esclarecedor, informativo, elucidando fatos e posturas que muitos nem sequer se preocuparam em buscar.
    Obrigada, e parabéns!!!
    Uma excelente semana para você!

  4. Ana Carolina Fuji disse:

    O que não posso admitir é esse coitadismo paradoxal da autora. Apelar para Sexismo numa eleição onde este assunto sequer está em pauta, mas se estivesse deveria refletir sobre a atitude de Lula em relação à Marina Silva. Reduz a discussão quando o resultado prático da primeira mulher a presidir o país é assistir o aumento das taxas de homícidios contra mulheres. Idem para estupros, e outros crimes verdadeiramente sexistas. Banalizar um tema tão importante em prol de proselitismo eleitoral barato sim é retroceder na Luta.

  5. Severa do Carmo disse:

    Felizmente há pessoas vivas, de olhos e ouvidos abertos, como você, Marina.
    Pena que estamos na véspera da eleição, e não haverá tempo de circular melhor esta sua análise.
    torço para que a consciência aflore, como nas histórias da grande autora de MuLHERES QUE CORREM COM OS LOBOS.
    vmos ser mais solidárias, e aprender mais entre nós mulheres, como lidar com machistas e preconceituosos, e saber nos defender destas figuras que andam soltas por aí.O candidato a Presidente tem consciencia do que faz, quando agride e estimula a agraessão as mulheres.
    Vamos de Dilma, mulher VAlente.

  6. Gabriela Oliveira disse:

    ótimo texto! Assunto que precisava realmente ser colocado em foco. Agora, como você bem disse, a candidata tem que puxar mais esse debate. Parabéns!

  7. Rubem disse:

    Já vivi o macha alfa chamado COLLOR de MEllo. Sai!!!!!

  8. KELLY ESPICALSKY disse:

    Sua análise pode ser uma interessante tese a ser debatida nos bancos universitários, mas diante de tantos escândalos escrachados e da derrocada econômica em que o País se meteu, dá mesmo para reduzir a ascensão de qualquer candidato ao discurso machista x feminista? Sério? Alguém em sã consciência acha que é esse o real motivo por trás da insatisfação popular de homens E mulheres deste século?

    A verdade é que a presidente não foi uma gestora à altura do cargo que ocupa, independentemente de sexo ou atributos físicos.

    Repito e reforço a pergunta de outra leitora acima: todo esse reducionismo não seria uma manifestação sua de machismo?

    Sou mulher e não voto na Dilma. Nem no PT. Seja candidata ou candidato. Precisamos de gente séria, capaz de conduzir o País com austeridade e estratégia, longe de simplificações sexistas e categorizadoras. Se é o Aécio, não sei. Mas certamente não é a Dilma.

    • Adilson disse:

      Colega, sério que você acha que a corrupção aumentou e que a culpa é do PT? Sei que o que os olhos não vêem,o coração não sente, mas os governos do PSDB são conhecidos pelos engavetamentos do judiciário e a conivência da imprensa. Se você quer que a corrupção seja denunciada e não acobertada, repense sua opção.
      Te passo um texto interessante sobre corrupção que li esses dias que, infelizmente, eu concordo:
      http://www1.folha.uol.com.br/fsp/newyorktimes/191582-eleicoes-tio-arthur-e-a-geladeira.shtml
      Pra não me taxar de petista, te digo que voto nulo, porque não confio com o sistema político-eleitoral que vivemos (financiamento de campanhas, urnas eletrônicas,etc) e não concordo com o desenvolvimentismo a todo custo (de ambos os lados da campanha)que tem causado estragos irreversíveis ao meio ambiente e a cultura de nossos rincões.
      Sobre o texto da Marina, concordo 100%. Abraços

  9. Nelci Simon disse:

    Marina, vc falou tudo o que eu tenho preso na garganta. Querida, permita-me chama-la assim: Que bom que vc existe e tem essa sabedoria. Sua voz é a nossa. Obrigada.

  10. Patricia Batalha disse:

    Marina, obrigada por essa mensagem! Concordo com tudo que você expôs.
    Um grande beijo!

  11. Nina Maques disse:

    Excelente análise, Marina. Tomara que Dilma eleita possa debater com a seriedade a questão de gênero no Brasil.

  12. tete disse:

    Acredito que o seu discurso seja realmente em defesa da mulher., eu mesma parto d a opinião que as mulheres são o segmento mais forte da sociedade brasileira. Porém não é pro ser feminista e defender as mulheres que vou pensar no gênero e não no todo. A presidente Dilma não fez grande coisas pro progresso do Brasil e de nós todos os brasileiros independente de sexo, raça, idade ou religião,. Quando eu falo todos estou em referindo ao todo e não as partes. Precisamos de alguém pra governar o todo e não as partes. Considero que você tem boas razões para escrever o que escreveu. Mas não estaria sendo você a machista?
    Obrigada.

  13. Hegle Borges disse:

    Muito bom o texto, vale de ressaltar as pessoas que apoiam o Aécio nesta eleição: Feliciano (já expressou seu ódio contra homossexuais e negros), Pastor Everaldo ( “pastor” já denota a mistura religião com política, algo historicamente não é nada confiável, além disso, em 2012 já foi condenado por bater na própria esposa) Jair Bolsonaro (defende a tortura e regime militar, é contra a lei Maria da Penha, e claro contra homossexuais), Levy Fidelix (“aparelho excretor não reproduz”).

  14. Maria Balbina disse:

    Muito verdadeiro seu texto, Maria.

  15. Renato Morgado disse:

    Simplesmente SENSACIONAL cada parágrafo uma análise diferente de um conjunto que muitos dispensam por ser “politicamente correto” demais.

  16. Ronaldo Borba disse:

    Poucos perceberam as questões, para além do processo de eleições, nas abordagens e na imagem/simbólica candidato do PSDB. Percebem a postura submissa da esposa ao lado candidato? Não podemos regredir em direitos conquistados. Não podemos deixar tal postura “macho alfa”, tão marcada, mas velada em nossa sociedade, despontar um sobre as conquista de mulheres que tiveram que passar por cima de todos os preconceitos para construir uma nação mais humana.

  17. Maísa disse:

    Muito bom, Marina! Parabéns!

  18. Sheila Campos disse:

    Agradeço pelo texto claro e lúcido. O enfrentamento de gênero é deixado de fora propositadamente dos debates e “análises” de canais e emissoras, que, aliás, a grande mídia sabota diuturnamente. Por que as mulheres brasileiras são tão machistas? Porque embriagam-se diariamente com melodramas que demonizam mulheres fortes, decididas, ativas, e “premiam” mocinhas passivas, conformadas e obedientes, em contínuo fortalecimento de um estado de coisas que favorece a primazia masculina e critica de modo ácido, mas dissimulado, a ação feminina. A população brasileira tem maioria feminina que é invisibilizada e escravizada, de maneira semelhante aos negros, indígenas, idosos…

  19. Wilder disse:

    Muito original sua análise, excelente texto.

  20. Eliane disse:

    Obrigada por suas sábias palavras, ao enaltecer nossa presidente à reeleição está engrandecendo todas as mulheres deste nosso país. Sempre prontas!

  21. Eliane disse:

    Obrigada por suas palavras, que reforçam estar de prontidão e motivada para mais uma conquista dessa maravilhosa mulher, nossa presidente.

  22. Vania disse:

    Adorei seu texto Marina! Estou compartilhando. Bjs

  23. Adelia disse:

    texto definitivos! Parabéns

  24. Hustana disse:

    Visão perspicaz, fina e certeira, Marina. Parabéns!
    Não existe inocência nos rituais e imagens de poder.
    No caso, a volta da mulher “ao seu lugar”, repõe a ordem patriarcal, revidando com prazer revanchista a petulância de uma mulher, divorciada, militante de esquerda – na presidência da república.

  25. Andréa Mesquita disse:

    Maravilhoso, real, sensato. E vem a pergunta tão triste: porque muitas mulheres brasileiras são tão machistas???

  26. Flora Orofino disse:

    Maravilhoso texto, Marina! Estou compartilhando. Um grande beijo!!

  27. Lourenço disse:

    Sensacional, Marina. Beijo

  28. Liliana disse:

    Parabéns pelo texto Marina!
    A grande imprensa deste país, funciona como um inseto que pica e transmite o ódio e a cegueira da visão.
    Não lhe cabe esclarecer nada a ninguém. Só denegrir e desmoralizar o PT e os petistas.
    Textos como o seu são muito importantes para a sociedade.
    Não fere, não insulta, não transmite ódio.
    Só deixa claro quem é quem que poderá subir a rampa do Palácio do Planalto, em janeiro do próximo ano e governará o Brasil nos próximos quatro.
    Compartilharei seu texto com os leitores do meu blog.
    Beijo

Comentários para Hegle Borges