“Neoliberalismo é o oposto da democracia”, diz Dominique Plihon
16/10/2014
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O francês Dominique Plihon é um dos principais estudiosos, no mundo, do que se denomina “capitalismo com dominância financeira” e de seus efeitos sobre a sociedade.
Professor emérito da Universidade Paris 13 (Université Sorbonne Paris Cité), ele tem longa experiência profissional no Banque de France e é atualmente porta-voz do ATTAC – associação que defende a taxação das transações financeiras internacionais.
Na semana passada, esteve no Brasil para uma curta temporada de palestras e aulas no Instituto de Economia da Unicamp, e conversou com o Brasil Debate.
As reflexões de Plihon sobre as ideias econômicas, seus porta-vozes e interesses, e mesmo o seu poder de pressão por meio do controle dos veículos de comunicação são um necessário contraponto à visão quase única que domina a discussão econômica no Brasil.
Indo além, põe o dedo na ferida de uma questão muito explícita em alguns personagens do debate eleitoral brasileiro: o conflito de interesses entre representantes do setor financeiro privado e suas prioridades para as políticas públicas.
Por fim, considera um enorme retrocesso, não só para o Brasil, a eleição de um candidato de perfil neoliberal neste segundo turno das eleições.
Confira os principais trechos da entrevista realizada e traduzida do francês por Bruno De Conti e Pedro Rossi.
Brasil Debate: Como você enxerga a relação do neoliberalismo com a democracia?
Dominique Plihon: Aqui há um paradoxo. Os neoliberais nos fazem acreditar que a liberdade concedida a todos os atores econômicos faz prosperar a democracia e que o mercado é favorável à democracia. Como se democracia e livre mercado caminhassem juntos.
Essa visão é completamente equivocada. Se deixamos o neoliberalismo funcionar, isso se traduz no surgimento de atores sociais – grupos industriais, bancários – que dominam não somente a economia, mas também a sociedade. Esses atores investem na mídia para difundir análises que condicionam a opinião dos cidadãos e isso funciona como uma forma de dominação ideológica. Aqueles que divergem do pensamento dominante são considerados heréticos, arcaicos, gente que não é séria.
Portanto, o paradoxo é que, ao reduzir o Estado sob o pretexto de dar mais liberdade às pessoas, dá-se poder a alguns atores sociais, concentra-se a renda e cria-se um pensamento único. Eu vou ao limite de dizer que aqueles que defendem o neoliberalismo são por uma sociedade totalitária. Neoliberalismo é o oposto da democracia.
BD: O discurso neoliberal é compatível com a construção de um Estado de Bem-Estar Social, que garanta serviços sociais públicos e universais?
DP: Para o neoliberalismo, o Estado Social é visto como um inimigo, como um concorrente, o que é de certa forma verdade porque, a partir do momento em que o Estado Social se desenvolve, é uma parte do setor econômico que escapa do setor privado, dos investidores internacionais etc. Eles querem controlar as escolas, controlar os hospitais, controlar as estradas, para obter lucros. É por isso que eles defendem a privatização, sob o pretexto de que o setor privado seria mais eficiente, mas a finalidade é o lucro.
O que devemos defender, enquanto economistas progressistas, é que o setor público é claramente mais eficaz do que o setor privado no que se refere à oferta de bens sociais, ao contrário do que dizem os neoliberais. Essa é uma briga ideológica importante. Eles dizem que se o Estado Social diminuir, todos vão ganhar, vão pagar menos imposto, a economia ficará melhor, os hospitais, as escolas e universidades serão melhores, o que é completamente falso.
Se pegarmos a saúde, por exemplo, o sistema mais eficaz, menos custoso e que traz mais bem-estar para população é o público e não o privado. O sistema de saúde americano, que é praticamente todo privado, é muito mais custoso do que o francês, que é principalmente público. Mas esse discurso não é ouvido pela mídia controlada pelos grandes grupos privados.
BD: Nessas eleições brasileiras, formou-se uma convenção na bolsa de valores segundo a qual o bom desempenho da presidenta Dilma nas pesquisas conduz a uma queda nos preços das ações. Como você vê o significado político dessa convenção?
DP: Keynes é quem primeiro explorou essa noção de convenção no mercado financeiro. A convenção é uma representação da realidade que corresponde muitas vezes aos desejos do mercado. Quando vemos nas eleições que a bolsa sobe quando o candidato Aécio Neves aparece com mais chances, isso significa a expectativa do mercado de que esse candidato tomará medidas mais favoráveis a ele.
O que é perigoso, pois significa que um candidato que queira fazer uma política de enfrentamento aos interesses e privilégios do mercado terá a bolsa contra ele. E isso toma uma proporção maior porque a mídia e as elites passam a mensagem de que a opinião “correta” é aquela do mercado e não aquela das pessoas que trabalham, que produzem, que consomem. Isso é, evidentemente, contrário à democracia.
E o que é interessante é que Keynes mostrou a existência de componentes irracionais na formação dessas convenções. As pessoas se comportam de maneira mimética; de uma hora para a outra passam a agir todas da mesma forma, com base em uma determinada ideia. Essas convenções são frágeis, às vezes irracionais e desprovidas de uma reflexão séria e, mais do que isso, podem ser manipuladas, o que quer dizer que alguns agentes podem forjar opiniões e condicionar a psicologia dos mercados para fazer valer seus interesses.
BD: Nos debates públicos, você tem chamado atenção para o conflito de interesses que envolve a profissão dos economistas. Qual é a importância desse tema?
DP: Na sociedade, há dois tipos de economistas. A primeira categoria é composta por economistas independentes ou com vínculos explícitos com alguma instituição, como um sindicato, ou um banco. Quando ouvimos um economista de um sindicato, sabemos que ele está defendendo os interesses do sindicato, isso é normal e transparente.
A segunda categoria são os economistas que são pagos pelo sistema – recebem recursos de empresas, bancos, partidos – mas não se identificam. Eles geralmente defendem os interesses das classes dominantes e por isso são figuras muito presentes na mídia, dominada por essas classes. Eles são os cães de guarda do sistema.
O que estamos propondo na Europa é algo parecido com que está sendo discutido nos EUA por Gerard Epstein: que haja regras precisas obrigando os economistas a publicarem o nome da entidade de quem recebem financiamentos, assim, quando eles falam na mídia, saberemos se estão defendendo o interesse de alguma empresa, banco, sindicato. Cada um fala o que quer, desde que seja transparente e não seja hipócrita.
BD: E no caso de economistas de mercado que ocupam funções públicas?
DP: Se há um candidato, como Aécio Neves, que anuncia um ministro que é um banqueiro, há um risco de conflito de interesse. Nesse caso, talvez seja o caso de declarar publicamente e, eventualmente, desnudar esta pessoa e os interesses que representa, já que tem muitos laços com o setor financeiro.
Na França, temos esse problema com os altos funcionários, por exemplo, da supervisão bancária, que após seu período no governo vão trabalhar nos bancos. O problema é que essas pessoas não ousam tomar medidas duras, sanções, contra os seus futuros (ou ex) colegas. Nesse caso, deve-se proibir a pessoa de trabalhar no setor que ela supervisionou durante três ou quatro anos, porque há conflitos de interesse.
Esse é o chamado fenômeno das “portas giratórias”, quando um economista vai para a administração publica, depois volta para o setor privado como um homem de negócio, e de novo para administração pública. Isso é muito perverso e antidemocrático.
BD: Como intelectual de esquerda e observador externo como você enxerga a disputa eleitoral em curso no Brasil?
DP: Primeiramente, vejo com bastante interesse porque o Brasil é um país muito importante, e a política que é definida aqui tem impacto sobre a América Latina e também sobre a construção da ordem mundial. Penso que os dirigentes europeus atuais são uma catástrofe para a ordem econômica mundial. Eles são fascinados pela ideologia neoliberal, pela competição, e não pela cooperação, pela solidariedade entre os países etc. Eles têm valores que certamente não são os meus, e que são extremamente perigosos.
Se um candidato neoliberal ganha no Brasil, certamente ficarei triste pelos brasileiros, mas também triste pela ordem internacional. Eu sei que a candidata progressista tem limites e problemas, mas penso que será melhor para o Brasil, pois ela já deu prova de independência frente aos Estados Unidos e frente a atores financeiros.
Precisamos de líderes que saibam resistir às grandes potências, ao setor financeiro, e não que sejam seus aliados. Portanto, vejo as eleições no Brasil com muito interesse e não escondo minha preferência por Dilma.
Crédito da foto da página inicial: Agência Brasil
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Discurso hipócrita de um economista de esquerda, com um estado pequeno há muito mais liberdade de informação. Ricos podem até pagar para que meios de informação divulguem aquilo que lhes convém, porém, quanto maior o estado, mais o governo tem poder sobre a imprensa, chegando ao ponto de todos os veículos de informação divulgarem apenas o que agrada ao governo. Aí sim teriamos uma ditadura como os países socialistas tiveram. Muito melhor cada emisora de tv e rádio expressarem seu ponto de vista ao invés do governo obrigar todas a mostrarem somente aquilo que agrada aos governantes. Aliás, economista de esquerda é igual nutricionista obeso. Estranho.
Estado maior não é sinônimo de diatadura cubana. Pesquisa mais sobre os países europeus com os maiores índices idh que vc vai encontrar um estado muito presente, nada ditatorial e com liberdade de mercado, esse tema não pode ser abordado com extremismo.
Prezado,
O que é a Globo?
[…] “Neoliberalismo é o oposto da democracia”, diz Dominique Plihon – entrevista exclusiva do Brasil Debate com o professor francês. […]
gostei muito esclarecido ele fala de A e B e agradar a e b sempre foi dificil mas que os gigantes ficaram balançados ficaram tem economista poderosos neste pais e muito senhores de engenho que queria uma beirada
Dilma, para tristeza dos neoliberais, ganhou as eleições, pois saímoas às ruas para dar-lhe mais essa vitória.Agora ela chama a reforma política com consulta popular e os velhos da velha política, apoiados pela velha mídia neoliberal, articulam seus conchavos para impedir a participação do povo! Vamos sair às ruas de novo, como em 2013, para apoiar a iniciativa da Presidenta Dilma!
[…] projeto neoliberal, as políticas sociais devem ser focalizadas, ou seja, o Estado tem o papel de cuidar apenas dos […]
A Quantidade de asneiras proferidas por tal estudioso da economia só não é maior que a sua vermelhidão… mas uma coisa tenho que concordar com um dos comentários acima ele é muito honesto intelectualmente com a sua ideologia. Seguindo a cartilha… “Lenin: “Acuse os adversários do que você faz, chame-os do que você é!”
Muito interessante !
Refletindo comigo mesmo:
Talvez quando eu estiver na minha mansão em Miami e for um empresário enriquecido pelo anarcocapitalismo eu vote em alguém que pense dessa forma, assim eu não vou me contradizer.
Acho que nem assim eu consiga votar na “liberdade” do capital, não, não vou conseguir, porque o socialismo é generoso, e eu prefiro confiar nas pessoas, tenho certeza que eu vou olhar pra trás e lembrar das verdadeiras injustiças que acontecem todos os dias, um estado forte contra a desigualdade no mundo é a única solução, a liberdade do capital só privilegia os que detém o capital.
São bem interessantes as suas ideia, porém acho que, para enquadrar melhor na realidade brasileira, ele deveria incluir a corrupção dos políticos (de ambos os lados) neste discurso, onde os interesses privados e públicos se misturam e não há uma linha divisora tão visível quanto nas palavras de Dominique.
Outra coisa a ser levado em consideração no cenário econômico, é a China, que mantém o consumo em alta, mesmo que as políticas públicas criem um ambiente interno recessivo.
E no Sistema de Saúde do Brasil, até se pagando morre!!!
O sistema de saude americano é o melhor do mundo?? Se vc não tiver como pagar, morre. Os brasileiros que moram por lá, deixam para fazer seus tratamentos médicos e dentários quando vem de ferias. Porque??? O nosso precisa melhorar muito para chegar ao nivel do da França, por exemplo. as o caminho é este.
Tenho vários amigos que vivem nos EUA e na hora
http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%8Dndice_de_Liberdade_Econ%C3%B4mica
Faz sentido o que ele fala (irônico).
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Gostei, interessante e bastante convincente enquanto fica no contexto genérico e global. Ao descer para a realidade brasileira ele tropeça em sua ideologia e chega a optar por uma candidata que travou a economia, interrompeu o processo distributivo e desarticulou as empresas públicas.
Uma pena, seu arroubo sem base suficiente de informações sobre o contexto que pretendeu comentar, a meu ver, o desqualificou, de modo similar aqueles que opinam sobre as benesses do bolivarianismo ou da dinastia castrista, na contra-mão do que pensa a maioria que vive e padece sob essas tiranias, não neoliberais e não capitalistas e, ainda assim, nada democráticas.
Sinto muito, o texto é esclarecedor, mas é apenas um ponto de vista. Quanto ao sistema de saúde, não concordo! O sistema de saúde nos EUA é o melhor do mundo! Temos hospitais de ponta em Houston, TX onde vivo e qualquer pessoa que precisar tratar de câncer, certamente sobreviverá nesse hospital. Certamente tudo é pago lá, porém, se trabalhamos, podemos pagar, para isso se trabalha, para satisfazer nossas necessidades, se nossa necessidade é sobreviver, que seja. A saúde brasileira, mesmo a paga, está de mal a pior.
Em 2013 morreram em Estados Unidos 45,000 pessoas por falta de atendimento médico, por nao poder pagar os altos custos dos tratamentos médicos.
sério? Recomendo o seguinte documentário:
http://www.imdb.com/title/tt0386032/?ref_=nv_sr_1
http://saude.estadao.com.br/noticias/geral,estados-unidos-tem-pior-saude-entre-industrializados,1577456
Concordo com eleison. A saúde dos EUA é melhor que a francesa. É sabido que o EUA está desgastado, mas até a presente não surgiu nenhuma sistema político efeciente para substituir o neoliberalismo. E, mais , PT também fez privatizações e aí como fica ?
Concordo, Eleison.
Hoje sou forçado a pagar 2 planos de saúde. O público, através dos meus altos impostos, e o privado, para ter uma condição minimamente decente de atendimento.
Entretanto, concordo que é um risco tratar saúde como business, entretanto os governos, em geral, não tem capacidade e competência para gerir nada, principalmente em países onde a corrupção passa do limite do tolerável, como no Brasil.
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Boa entrevista. objetiva. O entrevistado lúcido e sincero, dar uma aula de assuntos técnicos e práticos, além de ser honesto intelectual e honesto homem.
Plihon traduziu com exatidão o que está em jogo nesta eleição presidencial. O que foi conquistado até aqui e o impressionante avanço do Brasil no cenário mundial não pode ser estancado com a eleição de um neoliberal “bon vivant” subserviente ao capital. Temos a ganhar como nação na rota em que estamos com Dilma no comando optando pelo social.
Brilhante texto bastante exclarecedor
o Brasil não pode, não deve e nem vai trocar una administração democrática e trabalhista por uma administração neoliberal controlada pelo sistema financeiro internacional. O povo brasileiro está diante de dois projetos políticos e tem que entender isso. O candidato Aécio representa o Neoliberalismo misturado com a corrupção,
o cinismo e o tráfico do qual faz parte (segundo o policial mibeiro). Já a Dilma é o antídoto a tudo isso. Dilma presidente.